Educar é Preciso

Camila Menon trabalha com crianças desde a adolescência. É especialista em primeira infância, professora e diretriz Montessori da Educar é Preciso (@educarepreciso)
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Educação positiva: como estabelecer limites respeitando a criança

É possível seguir caminhos que não sejam baseados no autoritarismo ou na permissividade. Camila Menon fala sobre eles

Por Camila Menon
30 ago 2023, 11h23

Criar filhos é uma tarefa repleta de desafios e, muitas vezes, os pais se deparam com a difícil questão de como serem firmes sem serem autoritários/permissivos, principalmente considerando que a grande maioria cresceu em lares autoritários e, agora, pendem no dilema de “não repetir a forma desrespeitosa com que fui tratado” e “não ir para o extremo e me tornar permissivo”.

Abaixo, estão alguns hábitos que podem ser adotados para que os limites sejam estabelecidos de maneira respeitosa, e a criança perceba o mundo de forma lógica e estruturada, mas sabendo que pode contar sempre com você.

Separe o que é seu do que é da criança

A razão das pessoas serem permissivas e/ou autoritárias é porque elas priorizam o que é importante para elas e não para a criança (ou para a situação em questão). Quando o pai autoritário castiga o filho, ele o faz achando que assim terá respeito, ou seja, não é sobre o que a criança precisa aprender ou como ela se sente, é sobre a necessidade desse pai de ter poder.

Já quando uma mãe cede ao choro do filho, ela o faz pensando em dor, sentindo-se culpada e com medo de não ser amada. Logo, o foco é na necessidade dela e não no que precisa ser feito para educar a criança.

Estabeleça expectativas claras

Essa é uma das maneiras mais eficazes de ser firme sem ser autoritário. Narre de forma clara quais comportamentos são esperados e quais são inaceitáveis, direcionando sempre a criança para o que pode ser feito. Isso a ajuda a entender os limites e a desenvolver uma noção de responsabilidade sobre suas ações.

Ofereça escolhas

Permitir que a criança faça escolhas dentro de limites razoáveis é uma forma de promover a autonomia e, ao mesmo tempo, manter a firmeza. Em vez de dizer “faça isso agora”, apresente uma opção, como: “Você prefere fazer sozinho ou precisa da minha ajuda?”. Dessa forma, ela se sente ouvida e respeitada, enquanto você mantém o controle sobre a situação.

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Seja consistente

A consistência é fundamental para estabelecer limites de forma clara e lógica, para que a criança entenda como o mundo funciona. Nada é pior para ela do que, cada dia, você fazer a mesma coisa de formas diferentes – isso causa ansiedade, já que não é possível saber o que esperar.

Portanto, certifique-se de que as regras e consequências sejam aplicadas de forma constante em situações distintas. Quando a criança percebe que as mesmas expectativas se aplicam sempre, ela tem mais probabilidade de internalizar esses limites e respeitá-los.

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(Catherine Falls Commercial/Getty Images)

Consequência não é castigo

Acredito que essa seja a maior dificuldade, porque a maioria das pessoas foi ensinada na base da violência a aprender a se comportar. Todas as soluções que imaginam, então, acabam indo sempre pelo mesmo caminho. Ao pensar na consequência, questione-se: “Ela está relacionada com o erro ou, na verdade, eu quero apenas castigar a criança?”. Vamos a um exemplo. Seu filho não quer comer e você diz que, se ele não comer, não vai assistir à televisão. Mas o que a TV tem a ver com a comida? Percebe como usar a televisão como consequência é, na realidade, você querendo tirar algo de que a criança gosta? Isso é chantagem.

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Nesse caso, a única consequência lógica é ela sentir fome. A explicação pode ser: “Meu amor, se você não comer, sentirá fome depois, porque, assim que terminarmos o almoço, eu vou tirar a mesa e a sua próxima refeição será apenas o lanche, às 15h, ok?”. Uma criança de 3 anos não faz ideia do que isso quer dizer, mas, como você sempre repete a mesma coisa, aos poucos ela começa a entender o que significa. E aí, permita que a criança sinta fome. Eu sei que para muitos pode parecer controverso, porém é apenas lógica. Afinal, se você ceder e, após uma hora, ofertar uma banana para a criança que está “morrendo de fome” (como se alguém saudável pudesse realmente morrer de fome se ficar sem comer por algumas horas, rs), como ela vai sentir a tal fome que você tanto fala? Percebe como, mesmo na intenção de ajudar, você atrapalha o aprendizado?

Como eu sempre repito, “em casa que tem comida, ninguém passa fome”. Então, na hora que a criança reclamar que quer comer, use o momento para explicar que o que ela está sentindo é fome, descreva os sintomas físicos para ela poder identificar e diga que é isso que você quer evitar quando diz para ela comer. Na primeira vez, você até pode adiantar o horário da próxima refeição. No entanto, se acontecer novamente, é preciso relembrar o que já ocorreu e deixar a criança decidir, afinal, ela conhece a consequência (sentir fome) e você transfere para ela a decisão. A partir daí, ela tem que esperar até a hora certa de comer para entender o processo com clareza e não achar que você sempre vai ceder, entende?

Pratique a empatia

Ser firme não significa ser insensível ou grosseiro. É importante reconhecer e validar as emoções da criança, mesmo quando você precisa estabelecer limites. Seja a calma que a criança precisa e a acolha, explicando o motivo por trás das regras, mas não ceda.

Utilize o reforço positivo

Em vez de focar apenas nos comportamentos indesejados, é essencial reforçar positivamente as atitudes adequadas. Elogie sempre os comportamentos corretos, mas não se esqueça de que não é sobre você ou o que você sente, mas sobre a forma correta e esperada de fazer as coisas. Dessa forma, o adulto fortalece a motivação intrínseca da criança para se comportar de maneira adequada, em vez de depender da aprovação das pessoas para ser validada. Por exemplo, troque o “que menino lindo, estou muito feliz que você colocou sua roupa. Mamãe te ama muito quando você se comporta” por “muito bem, meu amor, você conseguiu se vestir sozinho, parabéns! Agora, nós temos mais tempo para brincar”.

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Independentemente da idade, esses são processos que, quanto antes forem apresentados, melhor a criança se adapta – porque, conforme ela cresce, o que não fazia sentido antes passa a fazer. Ela apenas responde ao que é esperado, sem reagir frustrada a cada nova tentativa equivocada que é apresentada.

Se você não começou desde cedo a apresentar esses processos para a criança, não desanime! Vai dar um pouco mais de trabalho, sim, pois, no começo, ela vai responder como já está acostumada, mas garanto que, se você se mantiver consistente, o resultado vem.

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