Todos os dias, cerca de 2 milhões de brasileiros enfrentam um desafio que vai além das palavras: a gagueira. O Dia Internacional de Atenção à Gagueira, instituído em 22 de outubro de 1998, foi criado pela International Fluency Association (IFA) em parceria com a International Stuttering Association (ISA), com o objetivo de aumentar a conscientização global sobre o tema.
Essa condição atinge principalmente crianças menores de 6 anos, sendo três vezes mais frequente em meninos do que em meninas. Embora fatores psicológicos não sejam a principal causa, podem intensificar a condição em pessoas que apresentam uma predisposição genética à gagueira. Entenda mais sobre ela a seguir.
O que é gagueira?
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a gagueira é um distúrbio de fala que ocorre durante o desenvolvimento do cérebro. Trata-se de uma disfunção psicomotora caracterizada pela repetição de sons ou sílabas e interrupções involuntárias na fala, o que compromete a comunicação.
Entre os sintomas mais comuns estão a dificuldade para iniciar palavras, bloqueios de fala durante as frases, e o uso de interjeições, como “um”, “am”, “né”, “aaah”. Muitas vezes, por causar ansiedade e tensão muscular nas pessoas, essas manifestações podem levar ao isolamento social, baixa autoestima e à depressão.
A pessoa com gagueira sabe o que quer dizer, mas pode não conseguir controlar o tempo e a duração dos sons, o que gera repetições, prolongamentos ou pausas na fala. Muitas vezes, substitui palavras de pronúncia mais difícil por sinônimos mais fáceis de articular.
Curiosamente, atividades como cantar, declamar poesia ou imitar sotaques não costumam desencadear a gagueira, pois ativam áreas cerebrais do hemisfério direito, diferentes das envolvidas na fala espontânea, que é processada pelo hemisfério esquerdo.
Como ela ocorre?
A gagueira é considerada um sintoma, não uma doença. Mesmo assim, o termo é frequentemente utilizado para se referir tanto ao distúrbio quanto ao sintoma. Essa condição pode surgir de duas maneiras: genética ou adquirida.
No primeiro caso, estudos indicam que alterações em genes específicos do DNA podem interferir no controle da fala de uma pessoa. No segundo, conhecida como gagueira neurogênica, o distúrbio é causado por lesões cerebrais, como AVCs ou traumatismos cranianos, por exemplo.
Além das dificuldades na fala, a gagueira pode vir acompanhada de movimentos corporais involuntários, como tremores nos lábios, tiques faciais — contrações repetitivas dos músculos —, além de movimentos bruscos da cabeça, piscar excessivo dos olhos e caretas
Diagnóstico
Em algumas fases da vida, qualquer pessoa pode apresentar episódios de disfluência, o que também é comum durante o desenvolvimento infantil, quando as habilidades de linguagem ainda estão em formação. Por isso, nem toda gagueira em crianças indica um problema duradouro.
Ainda não foi estabelecido um protocolo padrão para o diagnóstico da gagueira, mas o mesmo deve ser realizado por um fonoaudiólogo especializado em fluência, que avalia os sintomas, a frequência das rupturas na fala e como elas afetam a comunicação daquele indivíduo. Além destes, o histórico familiar também é levado em conta.
Nos casos infantis, o fator decisivo para o diagnóstico é quando o profissional identifica que, por seis meses ou mais, a criança tem consciência de sua dificuldade ao tentar falar e se expressar.
Tratamentos
Não existe uma cura para a gagueira, mas há tratamentos indicados por fonoaudiólogos que podem ajudar a controlar e reduzir os sintomas. É comum que esses tratamentos sejam multidisciplinares, envolvendo psicólogos e, em casos específicos, neurologistas.
A terapia fonoaudiológica é a principal abordagem, na qual o profissional ensina técnicas para melhorar a fluência, incluindo controle da fala e exercícios respiratórios. Atividades como leitura com lápis na boca, articulação exagerada do alfabeto, exercícios que trabalham a laringe e brincadeiras que estimulam a fala, também são comuns nas sessões.
Outro recurso utilizado são as práticas de respiração, que ajudam a reduzir a tensão associada à fala. Embora não existam medicamentos para tratar a gagueira, o acompanhamento psicológico pode ser útil para auxiliar o paciente a lidar com a condição e suas frustrações.
Lembre-se: consultar um fonoaudiólogo é essencial para avaliar a gravidade da gagueira e definir o tratamento mais adequado.
Casos raros
Há um tipo raro de gagueira conhecida como psicogênica, que se desenvolve em adultos após traumas psicológicos, mesmo que nunca tenham manifestado a condição antes. Nesse caso, o tratamento psicológico é essencial para eliminar os sintomas.