"Minha filha chegou até a beijar o irmão à força dizendo que queria pegar o coronavírus também"
Sara Duarte é administradora de empresa e mãe de Caio, de 9 meses - que contraiu a doença -, e Luiza, de 4 anos. O desafio maior na sua casa foi ter que proteger a filha, que não aceitou bem o distanciamento.
“Suspeitei da doença no dia 10 de janeiro, quando notei que havia perdido o olfato e o paladar. Como na ocasião o Caio estava com coriza e meu marido com dor de cabeça, fomos todos ao hospital realizar o exame PCR. O meu e do Caio deram positivo para covid-19 e do meu marido, negativo.
No ato do exame eu só estava sem o olfato e paladar, mas ao recordar de meus dias anteriores, lembro de ter tido conjuntivite, dor de cabeça, dores no corpo, náuseas e tonturas. Já o Caio, estava com coriza, apresentou febre baixa e ficou choroso. Após a confirmação da doença, ele teve um quadro de febre alta, o que me fez levá-lo ao pronto socorro, onde foi diagnosticado com otite. Com isso, ele teve que tomar antibiótico, mas em 10 dias já estava curado.
Neste meio tempo, ficamos em completo isolamento social – inclusive longe do meu marido e da minha filha que não estavam com sintomas. Dormimos em quartos separados, usamos máscaras e álcool gel dentro de casa, fazíamos as refeições em outro horário e não compartilhávamos nenhum utensílio.
Meu filho nasceu prematuro em plena pandemia, então meu medo dele contrair o vírus sempre foi muito grande. Por isso, quando recebi o diagnóstico eu fiquei muito chateada, já que estávamos tomando todos os cuidados e mantendo distanciamento social, mas de certa forma aliviada dele estar com todas as vacinas em dia e estar mais forte fisicamente em comparação com quando saiu da maternidade.
Já minha filha mais velha, sempre soube do coronavírus. Quando contraímos, foi difícil explicar para ela que teríamos que ficar sem nos abraçarmos e nos beijarmos – e essa parte foi complicada pra mim, porque ela não entendia a razão de não poder ter contato comigo, mas o irmãozinho sim.
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Por conta disso, quando meu marido voltava à noite do trabalho focava a atenção só nela. Chegou em um momento que ela queria o contato com o irmão e parecia que quanto mais eu orientava que ela ficasse afastada e não compartilhasse brinquedos, mais ela queria ficar perto e chegou até a beijar o irmão à força dizendo que queria pegar o coronavírus.
O segundo conflito foi por conta de eu ficar com o Caio no colo, porque ele estava mais choroso e manhoso e, quando ela vinha, eu deixava ela virada de costas para o meu rosto. Ela não estava entendendo de verdade que tínhamos um vírus que poderia passar para ela, embora entendesse que algo não estava 100%, porque sentia a tensão da casa.
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Eu tentava explicar de uma forma menos traumática possível, mas senti que ficou bastante abalada. Eu ficava chateada e com pena, porque ao mesmo tempo em que queria protegE-la, não queria que se sentisse sozinha.
Foram dias bem desafiadores e conturbados, sem nenhuma rede de apoio. Mas com o passar do tempo fomos nos acostumando, fui vendo que o quadro não estava ficando grave – porque meu receio era esse – e fui ficando mais tranquila. Com muita conversa, amor e respeito, conseguimos passar por tudo isso”.