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Sobrecarga materna prejudica os negócios da mãe empreendedora

De acordo com o levantamento realizado pela ONU Mulheres, 95% das entrevistadas sentem-se sobrecarregadas pelo acúmulo de responsabilidades.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 13 out 2021, 18h12 - Publicado em 13 out 2021, 18h10
Mãe trabalhando com filho no colo
Boy looking at mother using digital tablet. Woman sitting with son at table in kitchen. She is working from home. (Morsa Images/Getty Images)
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Era uma vez, uma mãe cansada que ficou ainda mais sobrecarregada por conta da pandemia. Esta é uma história que se repetiu em muitos lares e que mudou a carreira de mulheres no mundo todo. Com o fechamento de escolas e creches logo no início da então quarentena, mães tiverem que repensar como continuariam no mercado de trabalho ao mesmo tempo que precisavam cuidar dos filhos em casa.

Para muitas – por escolha ou por demissão de seus empregos formais, que tirou 7 milhões de mulheres do mercado de trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) -, a maneira de sustentar seus lares foi o ingresso no empreendedorismo (sendo considerada na pesquisa também mulheres que realizam atividades autônomas, freelancer e vendem produtos ou serviços), mas com o duro embate de que não conseguiriam se dedicar ao novo trabalho tanto quanto gostariam (e precisariam).

A pesquisa “Os desafios das mães empreendedoras na pandemia”, resultado do programa “Ganha-Ganha: Igualdade de gênero significa bons negócios”, da ONU Mulheres, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e União Europeia, é um retrato muito fiel desta realidade feminina.

O levantamento, de autoria de Vivian D`Ávila Abukater, idealizadora das plataformas Maternativa, Compre das Mães e colunista do Bebê, foi realizado entre junho e julho de 2021 e contou com 456 mães e/ou cuidadoras principais de uma criança de até 12 anos.

De acordo com o estudo, 75% destas mulheres têm o empreendedorismo como fonte de renda da família. E se esta informação já é significativa, ela ganha ainda mais relevância quando evidencia-se que, antes da crise econômica ocasionada pela pandemia, 56% das entrevistadas tinham os lucros do próprio negócio como parte da renda. Após a covid-19, este número saltou para 91%.

A dualidade do empreendedorismo materno

Inicialmente, tais dados trazem a sensação de que autonomia foi a grande conquista destas mulheres durante o período pandêmico. Mas, na prática, não foi bem assim que aconteceu. Para além das dificuldades econômicas pessoais e do país, o calcanhar de Aquiles das mães empreendedoras foi a sobrecarga vista dentro de casa, em que não era possível encontrar tempo para o próprio negócio por precisar cuidar dos filhos em tempo integral.

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95% se sente sobrecarregada pelo acúmulo de trabalho e responsabilidades e 94% considera que as múltiplas jornadas são um desafio muito pesado

Fonte: Os Desafios das Mães Empreendedoras na Pandemia / ONU Mulheres

“Independente do perfil sociodemográfico, as mães empreendedoras precisaram trocar o tempo dedicado ao negócio por tempo de cuidado com os filhos, a casa e atividades escolares. Para pelo menos 63% das empreendedoras, o aumento da carga de trabalho é o maior desafio enfrentado nesse período, a principal barreira à sua dedicação ao negócio”, relata a pesquisa.

Mãe-lavando-roupa-com-bebê-no-colo
(SolStock/Getty Images)

A jornada solitária vivida por mães que possuem negócios

Gráfico-da-pesquisa-do-programa-ganha-ganha
Um dos gráficos da pesquisa mostra que 75% das mães empreendedoras cuidavam dos filhos sozinhas, enquanto que apenas 17% conseguia pedir ajuda para os avós da criança e 15% para o parceiro ou parceira. (Programa Ganha-Ganha/Reprodução)
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Junto a uma imensa quantidade de tarefas a serem realizadas, esta sobrecarga acontece pelas raízes sociais sexistas que colocam apenas a mulher como responsável pelas crianças. Não por acaso, a pesquisa mostrou que para 92% das mães aumentou muito o tempo dedicado aos cuidados com os filhos. Enquanto que para 85%, este acréscimo foi na rotina de cuidado da casa e para 74%, nas atividades escolares. Já para se dedicar ao próprio negócio, apenas 59% das participantes relataram mudanças significativas.

“A vida familiar passou a antagonizar significativamente mais o sucesso profissional, e nesse contexto, é muito preocupante que o cuidado com os filhos seja visto como causador de prejuízos ao desempenho no negócio“, traz o levantamento. Desta forma, tanto a saúde mental materna quanto o desenvolvimento infantil acabam duramente fragilizados.

Por exemplo, crianças acabaram sendo vítimas de comportamentos mais agressivos dos pais, como xingamentos e agressões físicas. Enquanto que, do outro lado da moeda, transtornos psicológicos também atingiam os cuidadores, como foi o caso de 63% das mães brasileiras terem sofrido com depressão na pandemia, como aponta o estudo ‘Examinando indicadores de comportamento da criança e da parentalidade’, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Sem romantismo: é preciso estudo e políticas públicas

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Os resultados da pesquisa são claros e a demanda é urgente: é preciso trabalhar em políticas públicas que diminuam os prejuízos trazidos à estas mulheres na pandemia e promovam a igualdade de gênero no mercado de trabalho. A ideia é viabilizar a longo prazo maneiras de facilitar o caminho para mães terem mais recursos disponíveis quando desejarem abrir o próprio negócio. E respaldo para que consigam seguir em frente e manter suas empresas funcionando.

98% das entrevistadas relatou que gostaria de ter mais tempo para trabalhar, estudar ou fazer cursos e se dedicar mais na divulgação de seus serviços.

Fonte: Os Desafios das Mães Empreendedoras na Pandemia / ONU Mulheres

Um exemplo importante citado no levantamento é a educação financeira destinada às mães, já que é preciso munir estas mulheres de informações para que elas compreendam a importância de investir no próprio negócio e não misturarem as rendas da casa com as da empresa.

Fica bem visível que, o caminho é longo, mas que para um negócio materno poder seguir adiante, é preciso disposição da mulher, claro, mas não apenas: é extremamente necessário que exista uma rede de apoio com os filhos, maior divisão de tarefas dentro da casa e apoio educacional para a microempreendedora. “Uma mulher mãe sem apoio nos trabalhos de cuidado está sujeita a um nível de sobrecarga que a impede de buscar o seu pleno
desenvolvimento e investir em educação e no crescimento dos seus negócios”, pontua o estudo.

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