Quando fazemos um perfil nas redes sociais, precisamos preencher nossa data de nascimento, certo? Isso, porque as plataformas exigem uma idade mínima (que, em geral, é de 13 anos). Apesar desse requisito, crianças e pré-adolescentes abaixo dessa idade estão nas principais delas – foi isso que a TIC Kids Online Brasil 2023 apontou.
A pesquisa acontece anualmente desde 2012 e é desenvolvida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, a Cetic. Neste ano, foram ouvidos jovens de 9 a 17 anos, entre os quais 95% revelaram estar na internet, sendo que 88% estão presentes nas redes sociais.
Rede social não é lugar de crianças, mas elas estão lá
Os dados coletados mostraram que pequenos entre 9 e 10 anos são mais ativos, principalmente, no YouTube, seguido pelo TikTok. Entre 11 e 12 anos, essa ordem permanece, mas com a presença mais intensa do Instagram, que fica em terceiro lugar. Ou seja, crianças estão onde não deveriam estar. E por que isso é preocupante?

Sabemos que o ambiente online não é nada seguro e que estamos, o tempo todo, expostos às mais variadas violências. E se para nós, adultos, navegar com segurança pode ser um desafio, para os pequenos, então, ele é ainda maior. “Os riscos têm naturezas diversas e podem ser de violências sexuais ou comerciais, por exemplo. Há muitas possibilidades de contato ou situações de risco na internet”, afirmou a coordenadora do estudo, Luísa Adib, à Agência Brasil.
A questão, ressaltou Luísa, é que proibir talvez não seja o caminho mais eficaz, afinal, o acesso vai acabar acontecendo em algum momento. “(…) eu sempre destaco que proibir, inibir ou restringir a participação não necessariamente vai protegê-la [a criança] do risco. (…) Por isso, indico o diálogo e o acompanhamento dos responsáveis para saber que tipo de conteúdo ela está acessando e com quem ela conversa”, disse.
Certamente, ao menos até os 12 anos, como orienta a Safernet Brasil, é importante que os filhos tenham acesso restrito e controlado à internet, mas a conversa pode acontecer desde sempre e faz toda a diferença.
Acesso cada vez mais precoce
Segundo os resultados da TIC Kids Brasil 2023, para 24% dos entrevistados, o primeiro acesso à internet aconteceu antes dos seis anos de idade. A título de comparação, em 2015, ele acontecia aos 10 anos. Ou seja, a entrada no ambiente online está se dando cada vez mais cedo, entre indivíduos ainda mais despreparados e imaturos para lidar com tantas adversidades.
Um dado preocupante da pesquisa está relacionado à exposição a materiais impróprios. Entre todos os entrevistados, ao menos 9% viram algum conteúdo sexual nos últimos 12 meses – na maior parte das vezes, de forma não intencional. Já 17% entre 11 e 17 anos relatam ter recebido mensagens de conteúdo sexual pela internet.

“Por isso, reforçamos a importância da participação dos responsáveis no acompanhamento das atividades que a criança e o adolescente realizam“, orientou Luísa Adib.
A pesquisa ouviu 2.074 crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos e 2.074 pais ou responsáveis. O estudo foi realizado entre março e julho de 2023.