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“Eu tive a minha filha com 15 anos”

Conheça a história de uma jovem que engravidou na adolescência e os desafios que ela enfrentou com a maternidade.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 20h45 - Publicado em 6 mar 2016, 07h00
Arquivo pessoal
Arquivo pessoal (/)
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Jamile Asher, 25 anos, é secretária e mãe da Emylee Victória, de 10 anos. Aqui, ela fala sobre a experiência de ter sido mãe jovem. 

“Engravidei aos 15 anos do meu primeiro namorado quando completamos um ano juntos. A gestação não foi planejada. Eu sabia o que deveria fazer para me prevenir, mas na época achava que era madura, que sabia o que estava fazendo e que nada aconteceria comigo. Descobri que estava esperando um bebê com quase três meses de gravidez. Minha mãe desconfiou porque a menstruação dela vinha quase na mesma época que a minha e, apesar de sentir cólicas, o sangramento não descia. Então, ela me levou a uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e no teste de urina foi constatado que eu estava grávida. Foi um grande susto para mim! A não ser alguns desejos estranhos e sono fora do normal, eu não tinha notado nenhum outro sintoma.

Ao receber a notícia, fiquei envergonhada por ser tão nova e não sabia como eu conseguiria olhar novamente nos olhos da minha mãe. Ela ficou uma semana sem falar comigo. Os familiares me deram vários sermões, mas me acolheram de braços abertos. Somente uma irmã não ficou do meu lado e dizia coisas que me machucavam e humilhavam. Eu também recebi o apoio do pai da minha filha, mas, com certeza, cobraram mais de mim do que do meu namorado pelo fato de ele ser homem. Me diziam com frequência que depois de um tempo ele poderia me abandonar e que eu ficaria sozinha com a criança.

Eu decidi provar para todos que ser mãe nova não seria um impedimento e, sim, um motivo a mais para ter forças e seguir em frente. Frequentei a escola até uma semana antes de dar à luz e voltei para as atividades da rotina quando a minha filha completou dois meses. Fiz trabalhos para recompensar todo o conteúdo que havia perdido nas matérias. Eu não sofri muito preconceito no colégio, pois eu não era a única grávida – muitas meninas da minha idade estavam na mesma situação.

É claro que nem tudo são flores e era inevitável comparar a minha realidade com a das amigas que seguiram em frente e que, ao contrário de mim, continuaram estudando e construindo seu futuro enquanto eu estava preocupada em arrumar um emprego, para não depender tanto da ajuda dos meus pais. Foi necessário me privar de muitas coisas e amadurecer logo, pois eu tinha alguém que dependia de mim.

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Eu aceitei bem a gravidez, mas a minha ficha só caiu quando o bebê nasceu. Apesar dos familiares me tratarem bem, eu fiquei muito fechada e sentia que as pessoas me olhavam diferente na rua ou mesmo quando encontrava alguém que não via há muito tempo. Os médicos comentavam que eu era nova e uma vez um ginecologista me disse: “Parabéns! Ano que vem nos encontramos de novo”, querendo dizer que logo eu engravidaria novamente.

Eu tive parto normal no SUS e não tomei anestesia. Essa não foi exatamente uma escolha minha – mesmo porque eu era muito nova –, mas durante o pré-natal o obstetra informou que se tudo corresse bem na gravidez, esse seria o caminho. Depois que a minha filha nasceu, eu tomei conta dela a maior parte do tempo e assumi todas as tarefas, como dar banho, lavar as roupinhas, cuidar, educar. Minha mãe ajudava quando eu tinha que ir para a escola ou trabalhar.

Eu nunca morei com o pai dela e nós nos separamos quando minha pequena tinha três anos. O término foi difícil, mas eu superei. Nove meses depois, conheci o homem que hoje é o meu marido e ele deu um novo sentido para a minha vida. Eu precisava de alguém que fosse responsável, que lutasse comigo para alcançar os objetivos e eu encontrei essa pessoa. No começo do namoro, os pais dele ficaram receosos pelo fato de eu ter uma filha. Eles tinham medo de que eu não fosse respeitável e demorou um tempo para que entendessem que ser mãe solteira não significa ser vulgar.

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Quando era mais nova, eu me pegava pensando: ‘e se eu tivesse me cuidado mais?’, ‘e se tivesse esperado para arriscar e feito tudo diferente?’. Mas hoje, acho que eu mudaria a forma de encarar os conselhos da minha mãe e daria mais ouvidos a ela se pudesse voltar atrás. Tudo deu certo, eu cresci muito com a experiência, trabalhei e comecei a fazer faculdade. Infelizmente, não consegui continuar o curso, mas ainda pretendo voltar e me formar em fisioterapia.

Eu aprendi que ser mãe não é ter somente um bebê lindo para exibir, mas arcar com grandes responsabilidades que só entendemos quando temos filhos, mas também conheci um amor enorme, que não cabe no peito. Se você é mãe jovem e está lendo esse texto, saiba que não será fácil, mas você deve dar atenção para o seu instinto materno e superar os olhares acusadores e comentários preconceituosos. Também peço para que você não desista dos seus sonhos e que estude porque, como eu disse, um filho não é um impedimento, mas um motivo a mais para nos esforçamos e darmos o melhor que pudermos para ele”. 

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