“Mulher má, incapaz de revelar gestos de ternura“. É essa a segunda definição do substantivo “madrasta” que o dicionário Michaelis traz como linguagem figurada. Como “adjetivo”, a explicação também é negativa. “Diz-se de algo que não oferece benefícios, apenas dissabores e tristezas: Vida madrasta“, é o que lemos. Ao buscar o termo no Google, o resultado que aparece é com base no dicionário Oxford, “aquilo de que provêm vexames e dissabores em vez de proteção e carinho“.
É com o objetivo de mudar essas definições pejorativas que Mari Carmadelli, do perfil @somos.madrastas no Instagram, deu início a um abaixo-assinado no change.org. “Chega desse estereótipo. Os dicionários precisam acabar com essa linguagem figurada – que não presta serviço algum à sociedade – além de machucar mulheres que cuidam diariamente de filhos que não nasceram de suas barrigas”, diz a descrição da petição.
Pelo fim do estereótipo
Vale lembrar que “padrasto” não vem acompanhado de sentido figurado algum. Certamente, é por influência da ficção que esses sentidos conotativos foram estabelecidos, seja pelos contos de fadas que traziam a madrasta maléfica, como Cinderela, dos Irmãos Grimm, seja pelos desenhos da Disney que deram ainda outra dimensão à segunda esposa do pai. Mas não há dúvidas de que, em 2022, já passou da hora de abolir esses conceitos.
Como resposta às manifestações, o Google comunicou o seguinte:
“Não temos controle editorial sobre as definições fornecidas por estes parceiros, mas reconhecemos a preocupação de nossos usuários e vamos transmiti-la aos responsáveis pelo conteúdo. Essa definição será revisada pelo time da Oxford Languages para garantir que todas as informações estejam adequadas.”
Já a Editora Melhoramentos, responsável pelo dicionário Michaelis, informou que está “consultando uma equipe de lexicógrafas para uma revisão sensível no verbete”.
Mari Carmadelli é mãe de duas crianças, madrasta de outras duas, educadora parental, especialista em Inteligência Emocional e também escritora. Nas redes sociais, compartilha a vivência que tem e reúne em grupos de WhatsApp outras mulheres que estão passando pela mesma experiência para que troquem dicas e angústias.