Outubro Rosa: 8 respostas sobre amamentação e câncer de mama
No mês da conscientização, especialistas esclarecem algumas das dúvidas mais comuns sobre o assunto.
Receber um diagnóstico de câncer de mama quando você tem um bebê ou quer engravidar, sem dúvida, vai muito além de toda a preocupação com a saúde em si. “Será que um dia vou poder oferecer leite materno para o meu filho?”, “Será que eu vou ter que parar de amamentar?”, “O bebê pode mamar depois do meu tratamento?” são apenas alguns dos questionamentos que muitas pacientes enfrentam diante do problema.
Sabemos que ser mulher e envelhecer a cada dia são os principais fatores para o desenvolvimento do câncer de mama. É cruel, mas, segundo a mastologista Fernanda Perez Magnani Leite, do A.C. Camargo Cancer Center (SP), é real, e esse tipo de câncer é o mais comum entre a população feminina. Por isso, movimentos como o Outubro Rosa, que trazem o assunto à tona, reforçam a importância dos exames e da procura por diagnóstico precoce, são tão importantes.
“O câncer de mama está relacionado a fatores hormonais – tanto aos hormônios que nós, mulheres, produzimos, quanto a fatores externos que estimulam essa produção”, explica a médica. Nesse sentido, o ciclo reprodutivo, a gestação e, claro, a amamentação são fatores que impactam totalmente a questão hormonal. “O aleitamento materno pode até ajudar a prevenir o câncer de mama”, afirma a obstetra e mastologista Laura Penteado, diretora da Theia (SP), clínica voltada para a saúde das gestantes.
Para entender melhor como a amamentação influencia o câncer de mama e vice-versa, conversamos com as duas especialistas, que responderam às principais dúvidas sobre o tema. Confira!
1. Amamentar pode ajudar a prevenir o câncer de mama?
“A amamentação é um fator super importante para a prevenção do câncer de mama”, afirma Fernanda. Durante a fase da lactação, a mulher tem menos ciclos menstruais, o que diminui as taxas de hormônios. “As células mamárias ficam menos expostas à ação do estrogênio, que pode ser um estímulo para o desenvolvimento de células tumorais”, explica Laura. Além disso, ao longo do período de aleitamento, há muita renovação celular para a produção de leite. “Assim, há uma eliminação de células que poderiam desenvolver os tumores, e as chances acabam diminuindo”, explica a mastologista do A.C. Camargo.
Estudos científicos mostram que a cada 12 meses que uma mulher amamenta, o risco de ela ter câncer de mama diminui em 4,3%. “Há trabalhos que mostram que mulheres que fazem amamentação exclusiva durante seis meses têm redução de chances ainda maior. Mas amamentar, independentemente de ser de forma exclusiva ou como complemento, é um fator importante. Não é uma blindagem. É uma redução de risco. Não significa que a mulher que amamenta não pode ter câncer de mama”, lembra Fernanda. “Existem outros fatores que podem ajudar a desenvolver a doença, porém, é importante conscientizar sobre a importância da amamentação na prevenção”, completa.
2. Quem teve câncer pode amamentar?
Em geral, pode, sim. Existem algumas ressalvas sobre o tipo de cirurgia realizada para retirada do tumor. “Se a mulher passou por uma cirurgia de mastectomia, que é a retirada da glândula mamária, bilateral [as duas mamas], ela não terá mais glândulas para a produção de leite e não consegue amamentar. Mas se for uma cirurgia unilateral [uma mama], ainda tem a outra para servir na amamentação.
Se for uma cirurgia parcial, que não tira a mama inteira, mas um setor ou um quadrante, dependendo da parte que foi retirada, a mulher pode conseguir amamentar, sim”, explica Laura. “É preciso fazer algumas análises, porque dependendo da localização do tumor, às vezes são retirados alguns ductos, o que acaba impedindo o fluxo de leite da glândula mamária ao mamilo”, aponta a mastologista e obstetra.
3. Amamentar depois de tratamento/cirurgia reduz a chance de que o câncer volte?
Pode reduzir. Segundo Laura, há estudos científicos que mostram que, quando há gestação – e aleitamento – depois do período de terapias, o risco de o câncer voltar é menor em comparação com mulheres que não passaram pelo mesmo processo. Porém, na maioria dos casos, a orientação é que se espere dois anos após o fim do tratamento para engravidar.
4. Pode amamentar durante o tratamento de câncer?
Depende. “A amamentação é extremamente importante e precisa ser encorajada, mas é preciso entender o momento correto. Durante o tratamento com quimioterapia, o aleitamento é contraindicado porque a medicação passa para o leite e, consequentemente, para o bebê, colocando-o em risco”, explica Fernanda.
O bloqueio hormonal, que é uma quimioterapia oral, também impede o aleitamento pelo mesmo motivo: o risco para o bebê. Já a radioterapia permite, mas também é um desafio, porque a ação do tratamento pode diminuir a produção de leite naquela mama. “Outro ponto é que essa alteração do volume mamário por conta do enchimento das glândulas mamárias, durante o período de lactação, influencia o tratamento. A radioterapia é programada ponto a ponto, de acordo com o tamanho da mama. Se ela variar de tamanho devido ao enchimento de leite, pode haver uma absorção errada da dose”, explica Laura.
Mas, em alguns casos, há solução. “Uma opção para a amamentação durante o tratamento de radioterapia seria esvaziar a mama antes do exame de programação porque, dessa forma, você tem um volume fixo. Nesse caso, é preciso esvaziar a mama antes de cada sessão também”, sugere. Ela reforça, no entanto, que essa opção seja individualizada e discutida com o radioterapeuta.
5. Quanto tempo depois dos tratamentos é possível amamentar?
No caso dos tratamentos de quimioterapia e hormonioterapia, é preciso aguardar até que a medicação seja metabolizada pelo corpo para que o aleitamento seja seguro para o bebê. “Depois do término da quimioterapia, o ideal seria esperar de 60 a 90 dias, dependendo da droga utilizada”, aponta Laura. “Mas, normalmente, depois da quimioterapia, a grande maioria das pacientes tem que continuar o tratamento com a hormonioterapia, que também impede a amamentação”, diz.
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6. Tratamento de câncer de mama reduz a produção de leite?
Depende. A radioterapia pode afetar, sim, a produção. A quimioterapia, em si, não interfere, mas a redução é uma consequência. “A quimioterapia não acaba com a produção de leite. Ela apenas reduz por conta da falta de estímulo de sucção durante o período de tratamento que, em geral, é longo”, explica Fernanda. Uma opção, nesse caso, seria a mulher ordenhar as mamas para retirar leite (e descartá-lo) ao longo do tempo, para tentar manter a produção.
7. Mastectomia: pode amamentar com uma mama só?
Sim. Se a mulher retirou um seio ou retirou parcialmente, sem afetar as glândulas mamárias ou ductos, ela pode continuar amamentando após a cirurgia. Se ela teve um dos seios removidos, pode amamentar com o outro. “Na grande maioria das vezes, a produção da mama vai se adaptar à demanda do recém-nascido. Será uma mama mais estimulada e, normalmente, dá conta de fazer a amamentação exclusiva”, explica Laura.
8. O desmame abrupto pode estimular o crescimento do tumor?
Não. “De maneira alguma. Não existe relação de crescimento tumoral com desmame. Todas as pacientes que desenvolvem câncer de mama durante a fase de lactação precisam interromper o aleitamento para não colocar o bebê em risco”, finaliza a mastologista Fernanda.