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7 mitos e verdades sobre a relação entre câncer de mama e maternidade

Amamentar reduz o risco da doença? Gravidez precoce ajuda a prevenir? E o tratamento com hormonioterapia, pode? Consultamos especialistas para responder.

Por Flávia Antunes
Atualizado em 23 jan 2023, 18h39 - Publicado em 2 nov 2019, 09h21
Na imagem, há a ilustração de um corpo feminino rosa em fundo branco, do pescoço até a pelve. Na imagem, ela faz o autoexame, tocando a mama esquerda com as duas mãos.
 (LCOSMO/Thinkstock/Getty Images)
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O Outubro Rosa, mês internacional de prevenção do câncer de mama, chegou ao fim, mas os debates sobre doença – que é a segunda mais recorrente entre as mulheres de todo o mundo – não podem parar.

Apesar de cada vez mais pesquisas abordarem as implicações deste tipo de câncer, formas de tratamento e prevenção, pouco se fala sobre a relação da doença com o universo materno. Afinal, ter filhos previne a doença? Amamentar diminui o risco do diagnóstico? Como as pílulas anticoncepcionais entram nessa história?

Consultamos especialistas para desvendar o que é mito e verdade neste relação:

1- Não é possível engravidar após ter câncer de mama

Mito. De acordo com a ginecologista Mariana Forghieri, cirurgiã do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer), é possível engravidar naturalmente, caso a menopausa química (causada pelo bloqueio dos hormônios na quimioterapia) seja reversível, ou seja, se a mulher voltar a menstruar.

Além da gravidez em si, algumas pacientes se preocupam com os efeitos da quimio ou radioterapia nos futuros filhos. Segundo a Sociedade Americana de Câncer, o risco de bebês concebidos depois do câncer apresentarem defeitos congênitos é praticamente o mesmo de crianças de mulheres que não tiveram a doença. Ainda de acordo com a entidade, um grande estudo conduzido na Suécia e Dinamarca em um período de 20 anos, relata que mais de 96% das crianças nascidas depois do tratamento de câncer da mãe eram saudáveis.

2- A mulher que menstrua cedo está mais propensa a ter câncer de mama

Verdade. A partir da primeira menstruação, a mulher começa a ovular e os hormônios que são produzidos nos ovários podem atuar favorecendo o crescimento ou desenvolvimento de um tumor. Além disso, nesse período há o desenvolvimento das glândulas mamárias. Segundo a ginecologista Mariana, quanto mais precoce é a menstruação, maior o tempo de exposição aos hormônios.

“Quanto mais ciclos hormonais a mulher tem ao longo da vida, maior é o risco de câncer de mama. Desta forma, tanto a menarca precoce quanto a menopausa tardia são fatores de risco”, acrescenta a mastologista Heliégina Palmieres, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.

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3- Gravidez precoce aumenta a chance de ter câncer de mama

Mito. Na realidade, é o contrário. “A gravidez é um fator protetor contra o câncer de mama, sobretudo se a mulher engravida em idade mais jovem, ao redor dos 20 a 24 anos, por exemplo”, diz Marina.

Isso porque a gestação interrompe os ciclos menstruais, fazendo um papel preventivo. “Uma das justificativas é que, quanto mais ovulações temos, maiores são os níveis de estrogênio – e maiores também as chances de formação de células cancerígenas. Então ter filhos, principalmente em idade jovem associado a amamentação, reduz o risco de câncer de mama”, complementa Heliégina.

4- Usar anticoncepcional aumenta o risco da doença

Inconclusivo, os estudos continuam avançando e não há consenso dentro da comunidade médica. No livro “Vencer o Câncer de Mama” (2015), os oncologistas Antonio Buzaid e Fernando Maluf relatam que os estudos que avaliaram o uso de anticoncepcionais hormonais (pílula, injeção, adesivo, anel vaginal ou DIU medicado) não demonstraram aumento do câncer de mama. A principal hipótese é a de que esses hormônios apenas substituem aqueles que seriam normalmente produzidos nos ovários. Sendo assim, a mulher continuaria exposta à mesma quantidade, sem alteração do total.

A oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês Marina Sahade ressalta que a relação entre o uso da pílula anticoncepcional e o câncer de mama ainda não está bem esclarecida, pois os diversos estudos sobre o assunto têm apresentado resultados conflitantes. “Parece que exposição ao fator hormonal influencia no aumento do risco de câncer de mama, porém esse aumento é muito pequeno se comparado a outros fatores de risco como a obesidade e sedentarismo”, diz ela.

As pesquisas são inconclusivas e a presença de casos discretos não deve orientar a decisão da pessoa, relata Heliégina. “A recomendação é que as mulheres não interrompam o uso, mas que discutam com seu médico e avaliem o risco, sobretudo para aquelas que têm casos de câncer de mama em idade jovem na família”.

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5- Ter filhos em idade avançada aumenta a chance de desenvolver câncer de mama

Verdade. A mastologista Heliégina aponta para a presença de estudos que relacionam a gestação tardia com o maior risco da doença, principalmente pelo longo tempo de exposição hormonal. “Mas existem outros fatores que também podem influenciar, como a quantidade de ciclos menstruais, a exposição à radiação, a obesidade e o sedentatismo”, complementa ela.

“Uma das explicações da relação da idade da gravidez e o risco aumentado do câncer de mama é que as células das mamas crescem rapidamente e isso eleva a chance de uma multiplicação anormal, que pode causar um dano genético, que mais tarde pode se tornar um tumor mamário. Nas mulheres com mais de 35 anos, essa mutação celular é mais comum”, diz Silvio Brombergespecialista em Ginecologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

6- Amamentar ou não amamentar os filhos não interfere no risco de ter câncer de mama

Mito. “Quanto mais tempo a mulher amamenta em cada gestação, menor é o risco de desenvolver um câncer de mama ao longo da vida”, conclui Marina.

A mastologista também ressalta o papel do bebê na amamentação. “Ao sugar o leite, ocorre uma “esfoliação” do tecido mamário, eliminando possíveis células agredidas”. O Instituto Nacional de Câncer complementa a explicação: “Quando termina a lactação, várias células se autodestroem, dentre elas algumas que poderiam ter lesões no material genético. Outro benefício é que as taxas de determinados hormônios que favorecem o desenvolvimento desse tipo de câncer caem durante o período de aleitamento.”

Além disso, dar leite ao bebê reduz a concentração de estrogênio em circulação, hormônio que pode virar “combustível” para o tipo mais comum de tumor na mama. No futuro, o aleitamento também faz a glândula mamária ceder terreno ao tecido gorduroso, o que diminui espaço para o câncer aparecer.

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7- O tratamento com hormonioterapia não pode ser feito durante a gravidez

Verdade. “A hormonioterapia é realizada como tratamento adjuvante após a cirurgia ou como tratamento para o estado avançado da doença em mulheres com câncer de mama receptor hormonal positivo – nomenclatura que define a presença de proteínas específicas no corpo da pessoa, que se ligam ao estrogênio e a progesterona”, afirma Heliégina.

“Frequentemente, utilizamos o tamoxifeno, um medicamento que bloqueia os receptores de estrogênio nas células para que o hormônio não se una ao tumor. Esta substância não deve ser utilizada durante a gravidez e nem na amamentação”, completa ela.

A oncologista compartilha da mesma opinião. “Durante a hormonioterapia, a mulher não pode amamentar, pois não seria seguro para o bebê. Desta forma, quem está neste tratamento após o câncer de mama deve interromper o medicamento antes da gravidez e reiniciar após o fim da amamentação, sob a orientação do seu médico”.

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