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Está se sentindo triste durante a gravidez? Baby blues à vista!

Segundo estudos, essa melancolia tem como causa o estilo de vida das gestantes modernas e pode até levar ao parto prematuro. Veja como escapar da zona de risco e viver sua gestação mais saudável e feliz.

Por Melissa Diniz (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 23h29 - Publicado em 31 Maio 2015, 17h01
Ondrooo/Thinkstock/Getty Images
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Você pensa que deveria se manter no auge da felicidade por estar grávida, mas, na prática, a conta não fecha assim. As mudanças no corpo vem em forma de enjoos, de insegurança e de oscilações de humor, nem sempre compreendidas por quem está ao lado. Um terço das grávidas sofre também com transtornos de ansiedade e depressão, segundo estudo realizado na Faculdade de Medicina da USP com 831 mulheres e publicado no Journal of Psychosomatic Obstetrics & Gynecology. “As alterações hormonais interferem no estado emocional. É como se os sentidos se exacerbassem para propiciar um contato maior com o bebê”, afirma a psicoterapeuta Sâmara Jorge, de São Paulo.

O quadro se torna preocupante quando a sensibilidade vem em forma de choro frequente, desânimo e tristeza. Os sintomas sugerem o pré-baby blues, um estado de melancolia que, se não cuidado, pode causar problemas à mãe e à criança. “Sempre que a gestante vivencia situações de stress ou angústia, há redução na quantidade de sangue da placenta, causada pela vasoconstrição. Em casos extremos, isso pode levar à ruptura da bolsa, parto prematuro e causar o baixo peso do bebê”, explica Alberto d’Áuria, obstetra do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo. No ano passado, uma pesquisa do Instituto Norueguês de Saúde Pública, em Oslo, com 50 mil mães de idades variadas, revelou os 37 fatores que predispõem a mulher ao blues gestacional. No topo da lista está insatisfação com o parceiro. Depois vem stress no trabalho, falta de suporte emocional e pré-existência de doenças crônicas, como hipertensão e asma. Pedimos a especialistas que listassem as que mais afetam as brasileiras. E entregamos as atitudes para manter a gravidez longe delas.
 
Investir em cumplicidade
Para os pesquisadores da Noruega, problemas no relacionamento amoroso são a principal causa do blues na gestação. “De fato, essa é a principal queixa das pacientes em meu consultório. Por isso enfatizo a necessidade de haver um comprometimento do marido no pré-natal”, diz a ginecologista Daniela Alves da Cruz Gouveia, do Femme Laboratório da Mulher, em São Paulo. “É importante que os homens participem das consultas, demonstrem interesse e compreendam as oscilações de humor da grávida”, diz. A médica ressalta a importância de manter a vida sexual na ativa. “A maioria das gestantes vive um recolhimento natural e experimenta uma queda drástica da libido. Os maridos, por sua vez, têm uma dinâmica diferente. Sentem-se abandonados. Por isso, converso com ambos separadamente para que um entenda o processo do outro sem se distanciar”, explica d’Áuria. Para Sâmara, sentir-se acolhida e querida pelo parceiro, mesmo com todas as mudanças que vivencia, dá a tão desejada segurança emocional.
 
Controlar a ansiedade
“Toda grávida, por mais calma que pareça, é ansiosa. É muito comum que sinta, inclusive, uma certa ambivalência no início da gestação, pois, embora esteja feliz, ela fica preocupada, insegura e cheia de medos, teme que o bebê não seja saudável, que haja problemas em seu nascimento e que não consiga ser uma boa mãe”, afirma o ginecologista e palestrante Roberto Cardoso, doutor em ciências pela Unifesp. Procure uma atividade que desvie o foco de sua atenção da gravidez e a deixe relaxada. De scrapbooking a meditação. Vale o que mantiver sua mente desacelerada.
 
Trabalhar sem ser fominha
A operadora da Bolsa de Valores Erica Mitie Ito, 32 anos, de São Paulo, mãe de Mellissa, 2 anos, teve episódios de blues na gestação em virtude de seu trabalho estressante. “Não tenho uma segunda chance para fechar negócios. O problema é que o ritmo e a atenção ficam lentos na gravidez”, diz. Ela lembra que o comentário grosseiro de um colega certa vez a levou a  uma crise de choro. “Precisei ficar 15 dias de repouso no final da gravidez e tive que fazer uma cesárea de emergência, dez dias antes da data prevista.” O apoio da família foi fundamental nesse momento. Para o ginecologista e obstetra Daniel Klotzel, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e membro fundador do Grupo de Apoio à Maternidade e Paternidade (Gamp), conflitos no trabalho, sobretudo com chefes, podem predispor as gestantes à melancolia. “Essas situações exigem diplomacia. As empresas precisam compreender que elas têm um ritmo diferente e ajudá-las a delegar certas tarefas temporariamente. Se for o caso, o médico deve intervir”, aconselha.
 
Seguir o pré-natal à risca
Tanto as enfermidades pré-existentes como aquelas que surgem na gravidez, como hipertensão ou diabetes gestacional, podem comprometer o estado emocional da grávida. Isso porque ela tende a se sentir amedrontada de que algo ruim aconteça consigo e com o bebê. “Esse sentimento é mais forte nas mulheres cuja saúde não está tão bem. Muitas precisam de repouso e não aceitam essa condição, ficando mais depressivas”, diz Cardoso. Para Klotzel, em qualquer gravidez, mas sobretudo em uma gestação de risco, um bom acompanhamento prénatal é fundamental. “Isso não se resume a fazer visitas ao médico, mas inclui a realização de todos os exames necessários, o recebimento de orientações de cuidado pessoal, aconselhamento nutricional e, claro, seguir todas essas orientações corretamente”, avalia.
 
Ficar de olho na depressão
Quando a gestante tem parentes com histórico de depressão ou já vivenciou a doença, explica Daniela, há mais risco de apresentar o problema na gravidez. “A depressão pode fazer cair a imunidade da paciente, predispondo-a a uma série de infecções e colocando o bebê em risco”, diz. Segundo d’Áuria, toda vez que vivenciamos situações difíceis e estressantes, o organismo consome serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Pessoas saudáveis tendem a compensar a perda. As deprimidas deixam o saldo negativo. “Se a paciente já usava algum remédio antidepressivo antes de engravidar, é importante manter a medicação para evitar que o problema se agrave e não gere, inclusive, uma depressão pós-parto. Mas se não usava, nós procuramos outras formas de tratamento menos invasivas, como a prática de exercícios leves e a psicoterapia”, diz.
 
Contar com os amigos
A gravidez pressupõe um certo recolhimento, explica Sâmara. “Não é à toa que a gestante costuma sentir sono no começo da gravidez. É o corpo se preparando para a nova fase”. O problema é quando, em nome desse recolhimento, ela se afasta demais do convívio social. “Ficar longe dos amigos e até do marido pode piorar o quadro de tristeza”, diz d’Áuria. Embora ressalte a importância de respeitar os sinais que o corpo demonstra, Sâmara recomenda que a gestante encontre espaços para relaxar, descansar, namorar e falar sobre o que está vivenciando com quem confia.
 
Cortar álcool e cigarro
Quem tem o hábito de fumar ou de beber e para de usar essas substâncias durante a gravidez pode experimentar a síndrome de abstinência, ficando mais angustiada e nervosa. “A falta delas causa uma queda na dopamina, ou seja, aquela falsa sensação de calma ou de alegria que a droga causava não é mais sentida e a mulher tende a se deprimir”, diz Daniela. Muitas vezes, é preciso de apoio psicoterápico para lidar com o problema. Há também os casos em que a paciente não controla a vontade, e acaba sentindo culpa. O ideal seria se livrar do vício antes de engravidar.
 
Curtir a gravidez-surpresa
Um bebê não programado tende a gerar mais insegurança, o que pode causar episódios de angústia. “Estima- se que 50% das gestações não sejam planejadas, mas isso não significa que não se tornem desejadas durante os nove meses. Na fase de ambivalência, é comum que muitas mulheres vivam sentimentos contraditórios em relação à maternidade. Muitas se consideram jovens demais ou estavam priorizando outros projetos”, diz Sâmara. O apoio que recebem do parceiro e da família pode ajudar a olhar a gestação de uma forma mais positiva”, diz Klotzel.
 
Maneirar na autocobrança
Segundo Roberto Cardoso, o medo de não ser uma boa mãe é comum, sobretudo antes do primeiro filho. “O desconhecido sempre assusta, mas a mulher tem a gestação toda para se preparar”, afirma. Para Sâmara, o melhor jeito de se tranquilizar é saber que muitas passam por isso e acabam dando conta do recado.
 
Resolver questões financeiras
Preocupações com dinheiro afetam a saúde mental da grávida, predispondo-a ao blues. “Principamente quando a mulher assume a gravidez sozinha ou não planejou ser mãe. Mesmo nesses casos, é possível encontrar uma saída se o marido ou pessoas de seu convívio derem apoio”, afirma Klotzel. Também vale recorrer ao banco para negociar o que deve ou pedir um empréstimo e passar o resto da gestação mais aliviada.
 
Eleger sua atividade física
Claro que a gravidez provoca mudanças no seu corpo. E você sabe disso. Na prática, porém, nem sempre é fácil lidar com os centímetros a mais no quadril, com o tamanho do seios… “Algumas mulheres temem até que o marido não as admire mais, pois não se sentem bonitas ou atraentes como antes. Há até aquelas que se excedem em atividades físicas, se esquecendo de respeitar o próprio ritmo”, diz Sâmara. Se você está com dificuldade de aceitar sua nova forma, vale, sim, praticar uma atividade física. Não com a intenção de emagrecer, mas para se sentir bem e curtir mais sua forma temporária. Praticar exercícios leves, como caminhadas, ioga e hidroginástica, além de seguir uma dieta balanceada, vão fazer você ficar mais tranquila e feliz.

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