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Existe uma idade mais indicada para se tornar mãe?

É possível gestar em diferentes fases da vida, com suas vantagens e desvantagens, mas viver a maternidade requer mais do que apenas o desejo de ser mãe.

Por Isabelle Aradzenka
Atualizado em 10 Maio 2022, 10h38 - Publicado em 6 Maio 2022, 17h23
Mulher branca grávida de biquiíni preto boiando na piscina.
 (Maximiliano Neira/Getty Images)
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Uma caixinha de possibilidades. A vida adulta permite uma imensidão de escolhas. A pressão social para uma maternidade compulsória existe, mas caminhamos para um maior entendimento de que podemos – e devemos! – ter poder de decisão sobre o nosso futuro, independente dos julgamentos alheios. Importante então que, cada mulher possa priorizar a ordem do que deseja para si, e em cada etapa da vida, tenha suas vontades respeitadas individualmente.

E mesmo entre aquelas que desejam a maternidade, nem sempre a vontade de ter um bebê é prioritária. Complexa como é, às vezes parece que ser mãe não se encaixaria com os objetivos atuais e muitas mulheres adiam este desejo até o momento perfeito para gestar. Emocionalmente e diante de todas as ferramentas que temos para postergar, é positivo planejar a gestação, claro. No entanto, será que existe mesmo o tal momento certo para tornar-se mãe?

O que diz a biologia…

Como o corpo não acompanha as nossas ambições pessoais, para a biologia há de fato um período mais adequado para que a mulher possa gestar naturalmente, ou pelo menos pensar em fazer o seu planejamento reprodutivo: até os 35 anos. De forma resumida, esta orientação é pautada na qualidade da reserva ovariana – ou seja, a quantidade de gametas que temos disponíveis.

Fernanda Valente, ginecologista especializada em reprodução assistida, esclarece que as mulheres nascem com um número limitado de óvulos (que são as células reprodutivas, os gametas). Além de não produzirem óvulos novos ao longo da vida, os existentes passam por um processo contínuo de envelhecimento – assim como todo o nosso corpo. Logo, essa reserva diminui com o passar do tempo, em quantidade e qualidade.

“Ao nascimento, carregamos cerca de dois milhões de gametas. No primeiro pico do hormônio luteinizante – ou seja, quando a mulher atinge a puberdade – o número da reserva cairá para 300 mil. Espera-se ainda que ela ovule até 500 mil óvulos durante toda a vida até chegar à menopausa, onde são raros os oócitos (gametas)”, exemplifica Ana Gabriela Pontes, ginecologista responsável pelo setor de Ginecologia Endócrina e Reprodução Humana e coordenadora do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB).

Neste contexto, a reserva ovariana da mulher tende a sofrer uma queda exponencial após os 35 anos. Quanto mais idade, menor a quantidade e a qualidade dos óvulos. Por isso, é recomendado que ela engravide ou pelo menos faça o aconselhamento reprodutivo até este período.

Já a idade “ideal” – ou melhor dizendo, mais fértil – para que a gravidez ocorra naturalmente estaria na faixa dos 20 anos. Nesse período, a fertilidade feminina está no auge e a chance de gestação é em torno de 25% ao mês. “Parece pouco, mas para nossa espécie, é uma ótima taxa mensal”, acrescenta Fernanda.

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Dos 30 aos 35 anos, a taxa vai para em torno de 20%, caindo para 15% depois dos 35 anos. Já a partir dos 40 anos, a chance de gestação natural é em torno de 1% a 10% por mês. “É possível sim conceber nessa fase, inclusive naturalmente, porém aumentam os riscos de complicações”, explica.

Gestação tardia: existe um limite?

Grávida segurando folha
(Natalia Deriabina/Getty Images)

Apesar do pico da idade fértil na faixa dos 20, é fato: a tendência entre as mulheres é de planejar a gestação cada vez com mais idade. Nos anos 2000, 14% das mães brasileiras tinham entre 30 e 34 anos. Nos últimos dados levantados em 2020, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este índice saltou para 20%. O mesmo acontece para mulheres entre 39 e 49 anos – que representavam 9% das gestantes, em 2000, e passaram para 15%, em 2020.

“É claro que a mulher pode engravidar depois dos 35 anos, mas a chance de ter alguma dificuldade é maior”, relata Fernanda. Entre os 20 e 25 anos, ocorre o auge da capacidade reprodutiva feminina – com a plena saúde física. Assim, espera-se melhores desfechos obstétricos e neonatais pensando na gestação, parto e no puerpério, acrescenta Ana Gabriela. Por isto mesmo que para as mulheres acima dos 40 anos de idade, é previsto maiores riscos de diabetes gestacional, hipertensão na gravidez e cromossomopatias (alteração genéticas no bebê).

Pensando ainda apenas na saúde materna, a recomendação é para que a mulher tente gestar até os 50 anos de idade. Entretanto, Fernanda acrescenta que se for comprovado o bom estado de saúde do útero e condições favoráveis para manter uma gestação com riscos controlados, a gravidez pode sim ocorrer acima dessa idade. “Se ela estiver em uma fase pós menopausa – onde não menstrua mais -, é feito um preparo do útero com medicamentos hormonais para que ele fique apto para receber um embrião”, completa.

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Em suma, nem todas as mulheres que optaram por adiar a gestação terão problemas para engravidar após os 35 anos. Caso tenham dificuldade para gestar naturalmente, elas podem recorrer às técnicas de reprodução assistida. No caso das mulheres acima dos 40 anos, elas estão mais propensas a precisarem de uma intervenção deste tipo, como a fertilização in vitro com óvulos próprios ou óvulos doados.

“Na fertilização in vitro, os óvulos da paciente são coletados e fertilizados em laboratório com os espermatozoides do parceiro ou de doador. Os embriões formados ficam em cultivo no laboratório e depois são transferidos para o útero da paciente”, explica Fernanda.

Posso adiar a gestação sem prejudicar a fertilidade?

Com certeza! No mundo ideal, o esperado é que as mulheres pudessem planejar quando e como gostariam de gestar – inclusive, terem o poder de escolha para interromper ou não uma gestação. Ainda não chegamos lá, mas já se pode debater sobre a importância do aconselhamento reprodutivo.

“Uma das principais funções do fertileuta (ginecologista especialista em reprodução humana) é o de aconselhamento e avaliação do casal ou da mulher que deseja conceber”, explica Ana Gabriela. Se até os 30 anos a mulher ainda não pensa em engravidar, esse seria o momento ideal para fazer uma avaliação da fertilidade com o médico especialista e pesquisar se ela porta fatores de risco para uma diminuição precoce da reserva ovariana.

Quem está na faixa dos 20 anos e pretende engravidar, deve preparar seu organismo mantendo um estilo de vida saudável e manter em dia os exames gerais e ginecológicos. Caso a gestação não aconteça no período de 1 ano, é importante iniciar uma investigação de infertilidade com um especialista.

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Essa é também a melhor época para fazer uso de procedimentos de preservação da fertilidade disponíveis no mercado, tal como o congelamento de óvulos: até os 30 anos, provavelmente ainda se conseguirá uma boa quantidade de gametas e com boa qualidade.

“O congelamento dos óvulos permite manter as características e a qualidade das células reprodutivas do momento em que foram congeladas. Se a mulher tiver dificuldade em engravidar mais para a frente, pode descongelar os gametas e fazer uma fertilização in vitro, aumentando as chances de gestação”, explica Fernanda.

Hoje em dia, este é um método seguro e eficaz, apesar de não ser uma garantia de sucesso da gestação. “Mais de 90% dos óvulos costumam sobreviver ao descongelamento, mas muitos outros fatores podem estar envolvidos nessa taxa. De qualquer forma, o procedimento é uma das melhores opções para alcançar a maternidade no momento mais adequado para cada mulher”, acrescenta.

No mais, o acompanhamento reprodutivo com um especialista ajudará a avaliar as possíveis causas de infertilidade e condições de saúde consideradas primordiais para uma gestação saudável. “Analisamos o diabetes mellitus não diagnosticado, o uso de suplementação vitamínica como o ácido fólico durante as primeiras semanas de gestação e a manutenção de hábitos saudáveis de vida”, complementa Ana Gabriela.

É importante ainda reforçar que o uso de métodos contraceptivos para adiar ou impedir uma gestação indesejada não irá afetar o processo de declínio da reserva ovariana da mulher, que já é estabelecido durante a vida intrauterina (ainda dentro da barriga da mãe).

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Como decidir a minha hora certa?

Gravidez-no-início
(Klaus Vedfelt/Getty Images)

É possível gestar aos 20, 30 e mais de 40 anos de idade. Mas bem sabemos que viver a maternidade requer muito mais do que apenas o desejo de ser mãe. A escolha deve ser feita dentro da história, realidade e vontade de cada mulher. “A maternidade requer muitas decisões antes mesmo dela acontecer de fato”, completa Jeniffer Rodrigues, psicóloga clínica e hospitalar.

Para a especialista, a melhor forma de avaliar a decisão é começar pelo autoconhecimento. Tente trazer para si mesma questões como: “eu quero mesmo ser mãe?”, “nesse momento da minha vida é possível eu cuidar de uma criança?”, “eu tenho outros objetivos para alcançar primeiro?”, “estou disposta a abrir mão de algumas escolhas?” e por aí vai.

“Diferente do que muitos dizem por aí, as mudanças trazidas pela maternidade são infinitas (nem tudo é instintivo, na verdade, quase nada). Se uma mulher estiver emocionalmente preparada, conseguirá lidar com os desafios da gestação, parto e puerpério que chegarem de forma mais equilibrada e consciente”, acrescenta a especialista.

Em relação à idade, para a mulher que decide engravidar quando está mais madura, ela poderá se sentir mais confiante na educação dos filhos. “No geral, essas mulheres já estão financeiramente mais estáveis, com carreira e vida profissional equilibradas”, expõe a psicóloga. Já as mães mais jovens geralmente viverão um momento com mais energia e movimento, mas terão vantagens com relação à fertilidade num geral.

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“Independentemente da idade, se preparar para tomar uma decisão consciente já ajuda em todo o processo”, orienta Jeniffer. A psicoterapia pode ser uma ótima ferramenta para estimular este autoconhecimento e a tomada de decisão, seja com relação à maternidade ou qualquer outra fase da vida.

Buscar informações ou relatos de mulheres à sua volta e selecionar (se possível) pessoas que seriam sua rede de apoio também te ajudará a entender a forma como irá encarar a maternidade. “Por fim, é preciso entender que a sua experiência será única e individual. Só a vivência vai construir o seu maternar”, completa a psicóloga.

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