Segundo o Ministério da Saúde, 340 mil bebês chegaram ao mundo de forma prematura no Brasil em 2012. Em outras palavras, eles saíram da barriga da mãe antes da 37a semana de gestação. Mas quantos desses nascimentos aconteceram de forma antecipada porque a bolsa rompeu ou simplesmente porque a mulher entrou em trabalho de parto antes da hora? E quantos se deram porque a gestante tinha algum problema de saúde que colocasse em risco a vida dela ou a do pequeno? Foi isso que o obstetra Renato Teixeira Souza investigou durante o mestrado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), publicado em 2015.
O objetivo era avaliar, especificamente, a porcentagem de nascimentos antecipados representados pelo parto prematuro terapêutico, que ocorre quando há indicação médica para que a gravidez seja interrompida antes dos nove meses. “Isso acontece diante de uma situação de risco para a mãe, o bebê ou ambos”, explica Souza. Entenda: se a mulher tem um quadro de diabetes gestacional que ameaça a saúde dela ou a do filho, por exemplo, o obstetra pode decidir tirar o bebê mais cedo.
Para fazer a pesquisa, Renato se baseou em um levantamento conduzido pelo Hospital da Mulher da Unicamp (Caism), que avaliou todos os partos realizados entre abril de 2011 e julho de 2012 em 20 hospitais de referência do país, localizados na regiões Sul, Sudeste e Nordeste. Ao todo, foram 33.740 nascimentos nesse período, dos quais 4.150 foram prematuros. Destes, 1.460 classificavam-se como terapêuticos, o que representa 35,4% dos partos antecipados. Segundo o autor do estudo, há nações em que esse índice chega a 50%, e outras em que ele não passa dos 15%. “Não existe uma taxa ideal. O que a gente observa é que o impacto é grande: o parto prematuro terapêutico corresponde a mais de um terço de todos os nascimentos prematuros no Brasil”, pondera o obstetra.
Saúde da mulher
Mas o que leva tantos médicos a indicarem a interrupção precoce de uma gestação? Está aí outro ponto levantado por Renato Souza no estudo. A partir de questionários preenchidos pelas participantes da pesquisa e da análise do pré-natal, do parto e da assistência ao recém-nascido, o médico encontrou as respostas que procurava. Os resultados do trabalho demonstraram que em 45,9% dos casos, era a condição de saúde da mãe que exigia o nascimento antes da hora. E as complicações ligadas à pressão alta – como pré-eclâmpsia e hipertensão crônica – foram os principais motivos para o parto prematuro terapêutico, representando mais de 90% das indicações.
De acordo com o especialista da Unicamp, as mulheres mais propensas a desenvolver esses problemas são aquelas que estão acima do peso, que são sedentárias ou que já têm diabetes, por exemplo. “E o que nós observamos é que a proporção de pacientes ficando grávidas numa situação de obesidade ou de morbidade, ou seja, com doenças, é alta”, observa Souza.
Entre as medidas para mudar esse cenário está o maior cuidado das mulheres com o próprio corpo. “Sem dúvida, a saúde da mãe impacta, já na gravidez, na saúde do filho, que pode sofrer consequências para o resto da vida“, alerta Renato. Daí a importância de procurar um médico antes de engravidar, para fazer a chamada avaliação pré-concepcional e identificar problemas que podem colocar em risco a gestação. Ao longo dos nove meses, também é fundamental fazer o pré-natal de forma correta, a fim de diagnosticar o quanto antes complicações que podem levar a um parto prematuro.
Mas não é só a futura mamãe que precisa de atenção. “Também é importante avaliar onde essas mulheres vão ganhar o bebê. O hospital precisa ter equipe e estrutura física adequadas para cada tipo de risco de gestação. Isso também impacta profundamente nessa prematuridade terapêutica”, alerta Renato Souza.