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Mãe viciada em álcool dá à luz filha com Síndrome Alcoólica Fetal

O caso aconteceu há mais de 20 anos, mas os efeitos causados pela cerveja prejudicam menina até hoje.

Por Carla Leonardi
11 jul 2018, 12h24
Mãe viciada em álcool dá à luz filha com Síndrome Alcoólica Fetal
 (AntonioGuillem/Thinkstock/Getty Images)

Em entrevista ao jornal The Sun, Linda McFadden fez um relato impressionante sobre como seu vício em álcool prejudicou sua vida e a de suas filhas, Sarah e Claire. Hoje, aos 53 anos, é com arrependimento que a inglesa de Richmond relembra a luta perdida contra o alcoolismo durante suas duas gestações. “Eu tinha 15 anos quando experimentei cerveja pela primeira vez em uma festa. Aos 22, o álcool consumia todos os meus pensamentos”, conta Linda.

Foi nessa fase da vida que ela conheceu David, que acabou se tornando pai de Sarah, a primeira filha. “Eu sabia que não era bom para o bebê, então tentei parar, mas não consegui”, relata. Apesar de David insistir em oferecer a Linda outras opções de bebidas não-alcoólicas, ela não mudava de ideia. “Ele não entendia que, para mim, aquilo não era uma escolha”, diz.

Duas semanas antes da gestação chegar a termo, o parto de Sarah teve que ser induzido pois os exames constataram que ela já não crescia mais. A menina nasceu com 1,956 kg e acabou sendo alimentada por um tubo no hospital.

“Nós desconfiamos que Sarah pode ter a Síndrome Alcoólica Fetal”, disse um dos médicos a inglesa, que conta ter sentido muita vergonha ao descobrir as dificuldades de aprendizado que bebês afetados pela síndrome podem ter. Apesar dessa desconfiança, porém, a pequena cresceu de forma saudável e teve todo o desenvolvimento no tempo certo.

“Nessa época eu já tomava oito canecas de cerveja por dia”, lembra Linda, que mesmo após o choque com o nascimento de Sarah não conseguiu parar de beber. Enquanto a filha crescia, ela continuava bebendo e escondendo garrafas pela casa.

A história se repete

Poucos anos depois, Linda engravidou novamente. “Naquela época eu já estava tão viciada que nem cogitei parar de beber”, conta. Dessa vez, o parto foi adiado em dois meses e sua segunda filha nasceu com menos de 900 gramas e menos de 50% de chances de sobreviver.

Segundo os médicos, Claire apresentava características que acusavam a Síndrome Alcoólica Fetal, com os pequenos olhos mais separados e o nariz plano. “Quando trouxemos ela para casa um mês depois, ela estava se desenvolvendo com atraso, mas atribuí isso à prematuridade. Eu não queria admitir que minha bebida tinha a afetado”, diz Linda.

Um dia, mais alguns anos depois, a mãe esqueceu o forno ligado e dormiu. A brigada de incêndio teve que lidar com a fumaça que tomou conta da cozinha e o serviço social ameaçou passar a guarda das crianças para outra pessoa da família. Ela acabou concordando em se tratar enquanto David cuidava das filhas.

Quando voltou para casa, meses depois, conseguiu perceber o que o álcool durante a gravidez causou em Claire. “Ela sofria de ansiedade e estava ficado para trás das outras crianças na escola. Contar a ela que aquilo era resultado do meu alcoolismo foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer”, relatou.

“Hoje faz 17 anos desde que tomei a última gota de álcool, mas Claire, agora com 23, vive com os efeitos da minha cerveja de todos os dias. Ela é independente e namora, mas tem muitas dificuldades sociais. Felizmente, somos muito próximas. Ela sabe o quanto eu me arrependo. É claro que nunca vou me perdoar. Me sinto muito culpada por ter traído minha filha”, finaliza Linda.

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Não há dose segura

A medicina ainda não chegou à conclusão definitiva em relação à existência ou não de uma dose segura de álcool durante a gravidez. Por isso, recomenda-se sempre zero ingestão de substâncias alcoólicas na gestação.

“O álcool é uma substância química prejudicial para o bebê e a exposição pode acontecer em qualquer período da gravidez, mas não se sabe a dose necessária para que isso aconteça. Obviamente, a mulher que sofre de alcoolismo vai ter um risco maior, mas isso não quer dizer que quem bebe ocasionalmente durante a gravidez não possa ter um filho com afetado pela Síndrome”, explica o médico Wagner Rodrigues Hernandez, mestre em obstetrícia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

O especialista destaca ainda que nem todos os bebês que têm a Síndrome Alcoólica Fetal apresentam alteração crânio-facial, mas podem ser diagnosticados ao longo da vida. “Pode-se fazer o diagnóstico por déficit de atenção, de audição, de visão, dificuldades de comportamento, de interpretação… Tudo isso pode ser afetado pelo álcool”, destaca o obstetra.

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