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Novas evidências do impacto da Covid-19 em gestantes e recém-nascidos

Pesquisas investigam possibilidade de transmissão da mãe para o bebê e sugerem que Brasil é o país com mais mortes de grávidas e puérperas do mundo.

Por Chloé Pinheiro
17 jul 2020, 15h17
 (Pierre Ogeron/Getty Images)
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Mais de 75% das gestantes e puérperas que morreram por Covid-19 no mundo até agora eram brasileiras. É o que aponta um estudo publicado recentemente no International Journal of Gynecology and Obstetrics

Das 978 gestantes que desenvolveram Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por conta do coronavírus no Brasil, 124 morreram. É um número 3,4 vezes maior do que os óbitos registrados no resto do mundo, como averiguaram os pesquisadores ao comparar os achados com dados de outros países. 

O trabalho foi conduzido por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e outras instituições. Ter alguma doença pré-existente, como um problema cardíaco ou diabetes, parece aumentar o risco.

A provável explicação não é, contudo, uma maior letalidade da doença no país, mas sim a desigualdade no acesso à saúde. Tanto que houve também uma sugestiva diferença na letalidade por raça. Entre as gestantes brancas, a mortalidade foi de 9%. Já 13,9% das mães não brancas faleceram.

“O estudo tem alguns vieses e seu formato dificulta a comparação com dados mundiais, pois o perfil das mulheres avaliadas não é o mesmo em todos os trabalhos incluídos”, comenta Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra dos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein. “O que podemos dizer é que enfrentamos uma disparidade no acesso ao sistema de saúde, e a assistência pré-natal adequada é fundamental para diminuir a mortalidade em qualquer doença”, completa o ginecologista. 

Para citar um exemplo, no México, onde a mortalidade é de 2,3%, o dado inclui todas as gestantes e puérperas infectadas – no Brasil, só os casos de SRAG foram contabilizados. 

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Gestantes estão no grupo de risco? 

Estudos apontam que portadoras de doenças pré-existentes e de obesidade estão mais suscetíveis a versões severas, mas na maioria dos casos a doença é branda nas gestantes. 

Só que, como elas sabidamente estão mais sujeitas a complicações de doenças virais, como a gripe, são consideradas parte do grupo de risco da Covid-19, segundo o Ministério da Saúde.  “É mais para dizer que o grupo merece atenção especial do que está em maior risco como um todo”, explica a pediatra Loretta Campos, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). 

Como o número de gestantes acometidas com gravidade é relativamente baixo perto do universo de casos como um todo, ainda não dá para calcular com exatidão os riscos da Covid-19 nelas. 

Entre as perguntas a serem respondidas em próximas pesquisas está o caso das puérperas, grupo no qual o perigo parece um pouco mais elevado. No trabalho brasileiro, a mortalidade foi maior em até seis semanas depois do parto do que durante a gravidez. 

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“Se estuda atualmente uma associação com o risco de sangramento pós-parto, que seria resultado de um quadro de atonia uterina, quando o útero perde seu tônus muscular”, destaca Pupo. “Mas esta relação ainda não está confirmada”, completa. 

E a tão comentada transmissão vertical do coronavírus?

Outro ponto sendo amplamente discutido pela ciência é se a mãe pode passar o coronavírus para o bebê na gestação ou no parto. Recentemente, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde do Reino Unido publicaram no periódico The Pediatric Infectious Disease Journal, o relato de uma possível transmissão vertical (nome técnico deste tipo de contágio). 

Um recém-nascido britânico desenvolveu Covid-19 três dias depois de nascer. A mãe tinha a doença, e o bebê foi mantido em isolamento estrito desde o parto, por isso é provável que o vírus tenha sido transmitido por ela antes ou durante o nascimento, concluem os autores. 

O bebê teve apenas sintomas leves, como coriza e febre baixa, e teve alta do hospital em 18 dias. A mãe, que ficou com a saúde bem debilitada pela infecção, se recuperou e foi para casa depois de 31 dias internada. 

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E uma pesquisa novinha, que saiu no jornal científico Nature nesta semana, encontrou “alta carga viral” do Sars-Cov-2 na placenta de uma gestante de 23 anos, cujo filho nasceu infectado, confirmando a transmissão vertical. Neste caso, o recém-nascido apresentou comprometimentos neurológicos e chegou a ser admitido na UTI neonatal, mas se recuperou sem sequelas.  

Ainda faltam mais dados, como detectar a presença do vírus em diversas amostras de cordão umbilical, placenta e líquido amniótico para confirmar se o achado poderia ser verdade para outras gestantes. De qualquer maneira, vale pontuar que mesmo nos bem pequenos a Covid-19 costuma ser leve. 

“A grande maioria dos casos em recém-nascidos descritos até agora evoluiu bem, sem sintomas graves da doença ou maiores preocupações, assim como ocorre com as crianças no geral”, conclui Loretta. 

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