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É verdade que a cicatriz da cesárea pode doer ao longo da vida?

Especialistas explicam possíveis causas para mulheres sentirem incômodo no corte mais tempo do que o esperado.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 25 mar 2020, 11h29 - Publicado em 28 fev 2020, 16h13
 (Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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Sim, é verdade, mas não é o processo esperado de acontecer. “Nos primeiros três a quatro meses após a cesárea, a região da incisão fica com uma sensibilidade reduzida porque existe alteração das terminações nervosas do local, isto é, significa que elas foram destruídas durante o procedimento e o organismo demora esse período para reconstruí-las. Porém, quando a cicatriz se torna mais grossa durante o percurso, ou tecnicamente hipertrofiada, ela pode ficar mais sensível”, explica Alberto d’Auria, ginecologista e obstetra da Maternidade Pro Matre Paulista.

O esperado é que com o passar do tempo, a dor vá desaparecendo, mas existem dois tipos de cicatriz que fogem da normalidade. São os casos da hipertrófica e de sua evolução patológica, as queloides.

“A cicatriz hipertrófica pode se dizer, grosseiramente, que houve o endurecimento e engrossamento da cicatriz, porém nada de excepcional. Na queloide, você tem uma hipertrofia patológica da cicatriz, ou seja, ela fica com uma altura muito acima do normal, o crescimento dela é incontrolável e pode até formar uma tumoração da cicatriz”, explica.

Com a diferença de características entre os dois tipos de cicatrizes, o médico detalha por que tentar refazê-las por meio de um procedimento cirúrgico pode trazer resultados completamente diferentes na pele. “Uma cicatriz hipertrófica, se eu retirá-la e fizer uma nova, pode ser que eu tenha sucesso. A queloide, quando eu retiro, corro o risco enorme de piorar a situação depois da cirurgia, porque é uma cicatriz que não se tem controle do desenvolvimento”.

O especialista ainda ressalta que alguns fatores genéticos podem influenciar uma cicatrização fora da normalidade, como o que acontece com negras e asiáticas. “Elas têm um tipo de pele que reage de forma mais agressiva com relação às cicatrizes, engrossando-as em qualquer lugar no corpo. Nesses casos, elas deverão receber mais atenção ao serem submetidas a um procedimento cirúrgico e recorrer a alguns meios que podem ajudar a reduzir a incidência de cicatrizes hipertróficas”, aponta Dr. Alberto.

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Um fio diferente na hora de fazer as suturas ou a realização de uma betaterapia (um tipo de radioterapia) no local, já no segundo ou terceiro dia após o procedimento cirúrgico, podem ajudar. Além da recomendação de cremes que trabalham para inibir a formação de uma cicatriz hipertrófica e o uso de uma fita de silicone durante quatro, cinco meses para prevenção.

Segundo o médico, outro fator que pode influenciar as chances do desenvolvimento de cicatrizes fora da normalidade é o formato do corpo. “Ao contrário do que muita gente pensa, as magras têm mais chance de ter cicatriz hipertrófica e as mulheres gordas têm menos chances. Isso porque elas têm um abdômen mais tenso, mais esticado, o que força a cicatriz e ela, para se defender, promove o engrossamento para não abrir. Quando a paciente é mais gorda, o peso do abdômen sobre a cicatriz reduz o nível de tensão e ela tende a ficar melhor”.

Outra dúvida recorrente de quem passou pela cesárea é um tanto curiosa: será que é verdade que a cicatriz dói mais quando o tempo está chuvoso? E a resposta surpreendente é…sim!

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“Todas as cicatrizes, nos primeiros seis meses, ficam sensíveis à umidade do ar, portanto, a paciente tem sensibilidade e dor na cicatriz, avisando que deverá chover na próximas horas, em decorrência da umidade relativa do ar. Todas as cicatrizes são assim: não só as de pele, mas ortopédicas e musculares também”, esclarece Alberto.

É possível prevenir?

Além dos cuidados específicos com a cicatrização em si, Eduardo Zlotnik, ginecologista, obstetra e vice-presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, alerta sobre a atenção ainda no período logo após o parto.

“A cesárea tem uma cicatriz fisiologicamente adequada para a região – você pode abaixar, levantar, que ela não estica. Só que por baixo da pele, a cirurgia vai para as laterais, para que se consiga empurrar o músculo para sair o bebê. E quando se mexe no músculo, coloca ele de volta, dá um ponto perto dele, e há o esforço pós-cirúrgico, você está mexendo nele. Por isso, existem mulheres que têm mais dor de um lado do que o outro, porque a musculatura lateral pode ficar mais inflamada e depende de onde se faz mais esforço. Por isso, o repouso pós-cirurgia, de 30 a 60 dias (que já é o suficiente), é importante para que se tenha uma cicatriz mais uniforme”, explica o médico.

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Para contornar os esforços excessivos que podem prejudicar o processo de cicatrização, Eduardo indica pequenos cuidados que podem passar desapercebidos pelo período da recuperação, mas que são essenciais para torná-la mais efetiva. Um exemplo disso é o jeito da mulher levantar da cama.

“Existe uma forma adequada de fazer isso. Não se deve usar a barriga, porque sensibiliza essa musculatura que não foi só mexida no parto, mas também estava esticada pela própria gravidez. Ela não tem uma força, uma tensão suficiente para tal. Portanto, o ideal é usar as mãos e as pernas para ajudar a se levantar, pelo menos no primeiro mês”.

O especialista também indica o uso de cintas, mas com cautela. “Ela facilita na tensão da barriga, ou seja, você fica mais acomodada para fazer os movimentos. Por outro lado, ao usá-la, o músculo fica em repouso. Por isso, não é interessante usá-la o tempo todo. Caso contrário, o músculo não vai voltando ao lugar”, finaliza o médico.

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