O retorno das aulas presenciais em meio à pandemia do coronavírus tem dividido opiniões entre os pais, principalmente os que têm filhos ainda na pré-escola. E o receio não é por acaso: as crianças menores tendem a ter mais dificuldade para usar máscaras, higienizar as mãos com frequência e, principalmente, manter distância de outras. Em contrapartida, a saúde mental dos pequenos está fragilizada, o trabalho dos pais está deixando de ser home office e a saída tem sido pensar na volta à escola de forma segura.
Essa discussão já tem acontecido em outros países que retornaram às atividades, como é o caso dos Estados Unidos. Por lá, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) emitiu um documento com orientações gerais do que checar na saúde da criança para entender se ela está apta para voltar aos estudos presenciais. Por aqui, é preciso que os mesmos cuidados estejam no radar das famílias.
Para isso, conversamos com três pediatras para listarmos o que é necessário fazer há um mês antes do retorno, os cuidados necessários na vivência do dia a dia no período escolar, e os sinais que devem ser levados em consideração para não mandar a criança para escola.
O que fazer antes do início das aulas
1. A carteira de vacinação precisa estar em dia
Ainda em 2019, o país registrou os níveis mais baixos da história de cobertura vacinal. E se o cenário já era preocupante, ficou ainda mais, já que com a pandemia, muitos pais ficaram com medo de levar os pequenos aos postos e clínicas para receber as doses necessárias. Entretanto, neste retorno às aulas, tudo precisa estar em ordem.
“Para toda criança que vai ingressar na escolinha, é muito importante que ela esteja com a carteira de vacinação em dia – tanto as de calendário quanto de campanha. E agora, ainda mais, porque estamos vindo de um momento que eles ficaram muito tempo dentro de casa”, explica Debora Carla Chong e Silva, especialista em pneumologia pediátrica e professora da Escola de Medicina da PUCPR.
Ainda que não se tenha uma vacina destinada à proteção contra a Covid-19, a carteirinha atualizada imuniza contra doenças como influenza, meningite, caxumba, sarampo, rubéola e entre outras infecções que podem ser mais perigosas ao público infantil.
2. Atenção com a alimentação
Com a volta do convívio entre as crianças, não é incomum que os pais pensem em buscar por suplementos vitamínicos, acreditando que eles garantirão mais resistência às doenças. Entretanto, Paulo Telles, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), pontua: “Não existe nenhuma vitamina ou medicação, comprovados cientificamente, que aumentem a imunidade das crianças e dos adultos”.
Isso faz com que o caminho mais efetivo para garantir imunidade da família seja retomar uma alimentação balanceada, que pode ter se perdido com o ritmo do isolamento social. A mesma atenção precisa ser dada à hidratação do pequeno, já que o período é de tempo seco.
Se mesmo assim houver a insegurança, a orientação de Debora é procurar pelo médico da criança. “Se os pais desconfiarem (que o filho precisa de suplemento) por algum motivo ou porquê acham que a alimentação da criança não é adequada, o ideal é procurar o pediatra. Ele vai saber, examinando e investigando (muitas vezes até pedindo exames), se ela tem ou não indicação de fazer uma suplementação”.
3. O sono também precisa ser regulado
O mesmo vale para os horários de dormir e acordar. Nós sabemos que eles podem ter ficado bagunçados com a pandemia, mas o retorno das aulas pede um cuidado especial em retomar a rotina do sono.
“Uma criança dormir bem não vai ter uma ação direta nos mecanismos de defesa contra infecções. Porém tem uma ação indireta: uma criança que dorme bem, acorda mais disposta, se alimenta bem, e brinca melhor”, esclarece Debora. Portanto, com o sono regulado, acaba-se criando um organismo mais saudável e com condições melhores para o desenvolvimento escolar.
Para retornar aos horários do período escolar, Telles recomenda que os pais comecem a colocar a criança para dormir no novo horário entre cinco a dez dias antes das aulas começarem. Esse processo de adaptação pode fazer com que o retorno seja menos difícil psicológica e emocionalmente para o pequeno.
4. Consulte o pediatra antes do retorno
Caso a família não tenha conseguido se adaptar ao atendimento online e tenha desmarcado o presencial, a tendência é que a criança já estava sem ver o pediatra há mais de seis meses. Esse cenário faz com que uma consulta com o médico do pequeno seja importante antes da volta às aulas.
“O pediatra vai examinar a criança, ver o seu grau de nutrição, investigar se tem algum sintoma que não vai bem e checar se a carteira de vacinas está completa”, enumera Debora.
A especialista ainda lembra que a visita é importante para que os pais possam falar sobre a parte comportamental do filho, que foi amplamente afetada com as consequências da pandemia, como o isolamento social.
As aulas voltaram? Hora de dar atenção aos itens das mochilas e higienização!
5. Não esqueça das máscaras
Junto com cadernos e lápis fofos, itens de higiene precisam integrar o material das crianças neste retorno das aulas. O primeiro deles é a máscara facial. “Se formos levar em consideração a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), eles orientam que crianças acima de cinco anos usem máscaras. E de dois a cinco, sob supervisão e se tiverem condições de uso”.
Portanto, a partir dos cinco anos, a pediatra Maria Amparo Martinez, do Hospital 9 de Julho, orienta que os pequenos saiam de casa para a escola com uma no rosto e mais duas dentro da bolsa. Já para os menores, pode ser necessário levar entre três e quatro máscaras reservas, já que a tendência é que eles sujem ou molhem as máscaras com mais facilidade, prejudicando sua capacidade de proteção.
Como lembra Debora, vale também fazer uma conta entre o período que a criança passará dentro da escola e a recomendação de que a máscara deve ser trocada entre duas a três horas, se ainda estiver em bom estado.
6. O álcool em gel precisa ser repensado
Lavar as mãos continua a ser a maneira mais eficiente para combater o coronavírus. Entretanto, em saídas necessárias, o álcool em gel acabou se tornando uma medida mais rápida e prática de garantir uma primeira proteção. Só que para as crianças menores de cinco anos, Maria Amparo explica que pode ser mais perigoso levar o item na mochila da escola do que não carregá-lo.
“Para as crianças pequenas, o ideal é que a escola tenha o álcool no ambiente. É importante que ele não seja disponibilizado com tanta facilidade na bolsa por risco dela ingerir, inalá-lo e se intoxicar”, completa Debora.
A especialista ainda reforça que o uso do antisséptico precisa ser supervisionado por um adulto, para que se tenha a certeza que o pequeno irá colocá-lo nas mãos e não nos olhos ou boca.
7. Garrafa e comida devem ser levados de casa
Para garantir mais segurança para as famílias, os pediatras recomendam que as crianças levem a própria garrafa d’água de casa e o mesmo vale para o lanche que ela fará em horário de aula.
Maria Amparo lembra que os bebedouros públicos estão proibidos no âmbito escolar e que o ideal, para caso o estudante precise repor sua água, é que se tenha um filtro disponível. Para os menores, é essencial que os pais orientam os filhos a pedirem ajuda para os educadores, a fim de que a borda da garrafa não entre em contato com o dispositivo d’água.
8. Os materiais precisam ser higienizados
E se os pais de crianças na fase pré-escolar já estavam acostumados a lavar o uniforme todos os dias, é importante que esse cuidado continue. Só que, diferente da preocupação que não se tinha antes, a pediatra do Hospital 9 de Julho recomenda que ele seja tirado logo ao chegar em casa, criando a rotina de que a criança vá direto para o banho. Em seguida, o ideal é juntar esta roupa e colocá-la dentro da máquina para lavar, podendo ser lavada com outras peças da família.
Já a mochila em si, Telles orienta a colocá-la em um lugar reservado em que o contato seja apenas quando a criança vai e volta da escola. Para higienizá-la, o pediatra aconselha o uso de álcool 70% e Maria Amparo complementa com a possibilidade de água sanitária diluída.
Também é uma atitude cautelosa separar um tênis apenas para o pequeno ir à escola, deixando-o reservado na porta de entrada da casa ou área de serviço. Para higienizar o solado, vale os mesmos produtos usados para a mochila.
No retorno da criança em si, atente-se aos sinais de quando não mandá-la para a escola
9. Ao ter sintomas da doença
Ainda que até o momento, as descobertas indiquem que o coronavírus tende a não ser uma infecção que atinge principalmente as crianças, o primeiro ponto levantado por Debora é: “Crianças com doenças crônicas em atividade precisam aguardar para retornarem à escola”, já que elas tendem a fazer do grupo de risco.
Dito isso, vamos para o cenário mais comum que é quando o pequeno está saudável, voltou para a escola e, repentinamente, começa a apresentar possíveis sintomas do coronavírus. “A criança sintomática não deve ir para a escola, e deve procurar um pediatra para saber o que ela tem”, reforça a pediatra. No primeiro sinal, é essencial que a escola seja avisada e o afastamento seja mantido enquanto o quadro estiver sendo investigado.
10. Quando alguém da família dá indícios de que está doente
O mesmo cenário vale para caso os pais da criança ou outras pessoas com quem ela mora apresentem sintomas associados à Covid-19. Como pontua Maria Amparo, ainda que seja uma dor de cabeça em um dia ou a garganta arranhando em outro, a atitude mais responsável neste momento é avisar a escola e não enviar a criança até que se tenha a certeza de que o adulto próximo foi ou não infectado.