Além do coronavírus, conheça os vírus respiratórios que afetam crianças
VSR e influenza provocam quadro semelhante ao desencadeado pelo Sars-Cov-2, mas podem ser mais graves nos pequenos e até ocorrer junto com o novo vírus.
O outono e o inverno sempre trazem uma temporada dos vírus respiratórios que circulam anualmente no país e atingem muitas crianças. Em tempos de Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), os especialistas destacam que é preciso atenção também com esses outros patógenos, em especial ao influenza, causador da gripe, e o vírus sincicial respiratório (VSR).
Eles ficam mais comuns nessa época e podem até piorar a resposta das defesas das crianças ao Sars-Cov-2, como aponta um artigo chinês, publicado nesta semana no periódico Pediatric Investigation.
“Nas poucas crianças com o novo coronavírus avaliadas pelos estudos, estes vírus também foram encontrados, mas não se sabe ainda qual deles apareceu primeiro ou estava causando sintomas mais agressivos”, comenta Fabiana Lopes, pediatra da DaVita Serviços Médicos.
A relação ainda está sendo desvendada pela ciência, mas é fato que os vírus respiratórios causam sintomas muito parecidos no início nas crianças pequenas. “Pode ser difícil diferenciar um do outro”, destaca Victor Horácio, infectologista do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.
Conheça um pouco mais sobre eles abaixo.
Vírus sincicial respiratório (VSR)
Praticamente todas as crianças terão contato com o VSR até o quinto ano de vida. Quanto mais tarde, melhor. Na maioria dos casos, ele causa sintomas leves de resfriado (secreções nasais, coriza e tosse) e vai embora sem causar estragos em no máximo 15 dias.
Contudo, no primeiro ano de vida, especialmente nos seis primeiros meses, ele pode causar bronquiolite, uma inflamação dos bronquíolos (parte do pulmão), que pode evoluir para pneumonia e exigir internação. Quando a bronquiolite está instalada, dias depois dos sintomas mais leves há um pico de piora, com esforço para respirar e se alimentar, apatia, cansaço e falta de ar.
“Nos casos mais graves, que são raros, o bebê precisa ser internado para receber suporte de oxigênio”, aponta Fabiana. Prematuros estão mais em risco de complicações, assim como portadores de problemas pulmonares e cardíacos.
Influenza
As aglomerações de crianças em creches, parquinhos e outros espaços facilitam a circulação do influenza, causador da gripe. “Ele é mais democrático, digamos assim, atinge diversas faixas etárias, sendo mais grave nos pequenos e em quem tem outras doenças. Este ano, por conta do coronavírus, acabou perdendo um pouco de espaço na mídia, mas os surtos infantis já estão acontecendo, mais cedo do que o esperado”, destaca Fabiana.
São diversos subtipos de influenza, mas os do tipo A, onde estão os subtipos H1N1 e o H3N2 são os mais frequentemente associados às epidemias sazonais. Os sintomas deles são os mesmos: febre alta, especialmente nas crianças, aumento dos linfonodos do pescoço, mal estar, dor no corpo, dor de cabeça e tosse seca.
A gripe também pode provocar quadros de bronquiolite e pneumonia, além de sintomas gastrointestinais.
Como saber qual vírus infectou a criança?
Na prática, é praticamente impossível distinguir, e isso nem costuma ser feito, já que a maioria dos quadros respiratórios infantis é leve e só exige uns dias de repouso em casa. “Só é feita a diferenciação quando a criança está internada, para descobrir qual é o vírus pois isso pode influenciar no tratamento”, aponta Horácio.
Não existe um remédio específico contra o VSR e o Sars-Cov-2, os médicos costumam amenizar os sintomas e oferecer oxigênio quando necessário. Mas, no caso do influenza, casos mais graves podem se beneficiar de um remédio específico contra ele.
Quando ir no hospital em tempos de coronavírus?
No caso das crianças pequenas, que não conseguem dizer o que estão sentindo, sintomas como dores não são tão óbvios assim. Por isso, vale ficar atento ao estado geral do filho. “Esforço respiratório e febre que não baixa com o uso de antitérmico já são motivos para ir ao médico”, destaca Horácio. Mal estar intenso, apatia, irritabilidade também devem chamar atenção.
Se precisar ir ao pronto-socorro (e mesmo circulando nas ruas) dispense as máscaras cirúrgicas. “Elas só devem ser usadas com a indicação do hospital, pois, mal utilizadas, podem acabar virando um foco de doenças, uma vez que você respira nela por muito tempo, umidifica o local e acaba criando um meio de cultura para vírus e bactérias”, ensina Horácio.
Elas devem ser usadas por quem já está doente ou lidando diretamente com um doente, não importa por qual vírus respiratório ele tenha sido acometido.
Como prevenir vírus respiratórios comuns no inverno?
Melhor do que remediar é prevenir, certo? Veja as medidas recomendadas pelos especialistas para evitar a transmissão de doenças comuns no inverno.
- Mantenha os cômodos da casa arejados, com janelas abertas e limpeza constante.
- Ao chegar em casa, tire sapatos, troque de roupa, lave as mãos. Se der, melhor ainda é tomar um banho.
- Evite aglomerações sempre que possível, principalmente nos bebês pequenos. Nesta faixa etária, também é bom evitar beijos e abraços constantes, principalmente se o adulto estiver com sintomas de gripe ou resfriado.
- Lave as mãos das crianças constantemente e as próprias antes de encostar nela.
- Manter a amamentação exclusiva até os seis meses de vida, que fornece anticorpos para o bebê.
- Manter a carteirinha de vacinação em dia. Vale lembrar que em breve começa a campanha de vacinação contra a gripe, que não só previne contra quatro subtipos de influenza como ainda dá uma “treinada” no sistema imune ainda imaturo da criança.