Entre as tentativas para encontrar um método que prevenisse uma gravidez indesejada e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), a primeira camisinha de látex surgiu por volta de 1880, enquanto que a pílula hormonal passou a ser comercializada em 1957, após estudos iniciados em 1953. Desde então, a ciência continua analisando possíveis métodos contraceptivos e criando novos dispositivos, conforme disponibilidade de tecnologia no mercado.
Recentemente, a Malásia foi palco da elaboração e divulgação da primeira camisinha denominada unissex, criada pelo ginecologista John Tang Ing Chinh. Chamado de Wondaleaf Unisex, o preservativo começará a ser comercializado já em dezembro deste ano, em caixas com duas camisinhas no valor de 14,99 ringgit malaio (cerca de R$ 20).
“Ele é uma película transparente, que pode tanto envolver o pênis quanto ser colocado dentro da vagina. Também pode ser utilizado cobrindo a região púbica, para evitar o vazamento de fluídos que pode resultar em gravidez, além de proteger contra ISTs”, explica a ginecologista Desireé Encinas, membro da Federação Brasileira de Ginecologista e Obstetrícia (Febrasgo).
Para que ela sirva tanto para o órgão sexual feminino quanto masculino, a técnica usada pelo ginecologista malaio foi fazer com que uma parte da base do preservativo seja adesivada. Isso permite que a sua extensão seja tanto esticada para cobrir o pênis, quanto invertida para ser introduzida na vagina.
Nos vídeos abaixo, você consegue visualizar melhor como é na prática para cada órgão sexual:
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Desireé lembra também que o preservativo é mais um passo na autonomia sexual feminina. “Por ser uma camisinha que pode ser usada tanto por homens quanto mulheres, isso dá liberdade para as mulheres terem mais um método de barreira, sem ser hormonal, que consiga evitar a gravidez”, completa a médica.
A ginecologista ainda explica que o material utilizado para confeccionar a Wondaleaf Unisex é igual ao usado para as camisinhas femininas, o poliuretano. Ele é mais macio do que o látex usado nas camisinhas, além de ser fino, transparente e resistente a água – todas estas características tendem a fazer com que o dispositivo seja mais confortável durante o uso e, consequentemente, tenha mais adeptos.
Veja mais detalhes (vídeo em inglês):
A luta pelo anticoncepcional masculino
Só que para além de uma nova camisinha que permita mulheres decidirem se desejam ser mães e quando isso acontecerá, o mês de outubro também foi cenário de discussão sobre anticoncepcionais masculinos. A cientista alemã Rebecca Weiss ganhou o prêmio James Dyson Awards (competição internacional de design) após criar um aparelho que faria com que homens, pela primeira vez, fossem os responsáveis em evitar a gestação indesejada por meio do uso de um dispositivo frequentemente.
O protótipo chamado Coso é um recipiente que dá uma espécie de “banho” nos testículos, por meio de ondas de ultrassom propagadas na água, as quais paralisam temporariamente a movimentação dos espermatozóides. Até o momento, o que se sabe é que a experiência causa apenas uma sensação morna na região, mas é indolor.
Com o prêmio, Rebecca ganhou 45 mil dólares pela criação e terá o apoio da instituição para continuar aprimorando o aparelho, a fim de que ele passe por todas as fases de teste e seja liberado por agências reguladoras de diferentes países para, enfim, ser comercializado.
O motivo que levou a cientista a dedicar-se à elaboração do aparelho foi uma experiência pessoal, já que ela teve câncer no colo do útero, em que os médicos suspeitam ter acontecido devido ao uso frequente de pílulas contraceptivas hormonais. Sem tantas opções voltadas aos homens – apenas o preservativo e vasectomia – para que pudesse suspender o uso da medicação, Rebecca debruçou-se em encontrar uma alternativa.
Por que um anticoncepcional masculino nunca foi criado?
De acordo com a ginecologista e obstetra Naira Scartezzini Senna, o primeiro motivo que leva a demora na criação de um anticoncepcional específico para figuras masculinas é fisiológico. “Diferente das mulheres, que liberam um óvulo por ciclo e torna esse bloqueio hormonal mais fácil, a construção de espermatozóides acontece diariamente em homens e, na ejaculação, eles são sempre liberados”, pontua a médica.
Desireé também explica que o machismo estrutural sempre fez com que o consumo do anticoncepcional fosse responsabilidade das mulheres, o que levou a comunidade científica e grandes laboratórios a não se dedicarem na elaboração de um dispositivo ou remédio que pudessem ser usado exclusivamente por homens.
Além do COSO, a ginecologista cita que outro anticoncepcional masculino ainda está em estudo. “Ele seria uma injeção aplicada próxima a região dos testículos, inibindo a produção de espermatozóides. Esta técnica pode durar até 13 anos, podendo ser reversível”, detalha a médica. A ideia é que o método seja semelhante a uma vasectomia, mas com a possibilidade de mudança do quadro assim que o paciente desejar.
A aprovação está dependendo da análise de efeitos colaterais citados por integrantes da pesquisa e que, segundo Desireé, tendem a ser vistos com olhares mais críticos pelas agências reguladoras nos dias atuais – realidade diferente de quando as pílulas femininas foram aprovadas, mesmo com consequências mais perigosas para a saúde feminina até hoje.