No imaginário popular, recém-nascidos são associados a imagens de choro constante e pais com expressões desesperadas, o que é totalmente compreensível já que o desejo é de que os pequenos sejam sempre acolhidos. Mas o que explica o pediatra Daniel Becker, idealizador do Pediatria Integral, é que os bebês tendem a ser mais silenciosos entre os dez, 15 dias de vida e, só após esse período, o choro começa a ser mais enfático.
Uma das explicações para esse desconforto é a percepção que o pequeno tem do cenário externo ao da barriga da mãe. “Existe todo um ambiente apertadinho, quentinho, que essa criança ficou nove meses. Quando ela chega aqui fora, estranha as luzes, o barulho, e o jeito de estar solta”, detalha a pediatra Thais Bustamante, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Para contornar este choro, os pais podem aprender a técnica que ficou conhecida como “5S”. Só vale ter em mente que ela deve ser colocada em prática apenas depois dos adultos conferirem as necessidades básicas do bebê, como oferecer o seio da mãe para acalmá-lo, checar se a fralda está limpa ou até mesmo colocar o recém-nascido no colo para entender se ele não precisava apenas do aconchego trazido pelo contato com a figura materna.
Por que a técnica funciona?
Se mesmo com todos os cuidados o bebê não se acalmar, tente a técnica. Ela foi pensada pelo pediatra americano Harvey Karp, em que cada um dos “S” são palavras em inglês que tem a função de recriar características básicas do que era a vida do bebê dentro do útero.
Thais pontua que essa adaptação ao mundo fora da barriga da mãe acontece principalmente nos três primeiros meses do recém-nascido, como se fosse um quarto trimestre da gestação. E, por isso, a técnica tende a ser mais efetiva neste período.
Para aprendê-la, vamos ao passo a passo:
1. Coloque o bebê de lado
O primeiro “S” é de “Side” (lado, em inglês). A orientação é começar o método colocando o bebê deitado de lado no colo dos pais. Daniel aconselha apoiar a cabeça do recém-nascido no antebraço direito do cuidador, com as costas do pequeno virada para barriga dos pais. A preferência pelo lado direito é porque assim a boca do estômago do bebê fica para baixo, o que facilita a descida do leite para o intestino.
“Muitas vezes, só de colocar os bebês de lado, eles já acalmam porque não gostam de ficar de barriga para cima”, detalha o pediatra. O motivo disso é que os pequenos estão acostumados com a sensação de flutuar dentro da barriga e o contato com uma superfície fria ou mais rígida tende a incomodá-los.
2. Incentive a sucção
“O segundo “S” é “Suck” (sugar). Dentro do útero, o bebê suga a mãozinha, o dedinho. Assim, eu coloco o dorso da mão dele que está livre em sua na boca. Eu prefiro usar a mão do bebê ou o dedinho limpo do pai, que é bem melhor do que usar uma chupeta“, orienta Daniel.
Este passo pode fazer com que pais pensem que ele é um incentivo para o pequeno chupar o dedo. Mas o especialista reforça que isso não é verdade, já que é comum e até mesmo esperado que a criança leve a mão até a boca ao longo do primeiro ano de vida para o seu desenvolvimento. Além da sucção ser uma forma de se acalmar e estimular a fase oral.
3. Bebê em formato de charutinho
O terceiro “S” é de “Swaddle”, que remete aos cueiros para enrolar os bebês em formato de charutinho. Essa fase da técnica é opcional, pois a reação dos pequenos varia: tem alguns que imediatamente se acalmam, outros não gostam de ficar contidos.
Além de trazer a sensação de estarem acolhidos como acontece durante a gestação, o charutinho também pode ajudar no que os especialistas chamam de reflexo de moro, que são movimentos primários que surgem como reações quando o recém-nascido é surpreendido.
4. Balance o recém-nascido
O quarto “S” é de “Swinging” (oscilante, em livre tradução), que é para lembrar aos pais de balançar o bebê, mas não de qualquer jeito. Thais detalha que os adultos devem balançar o recém-nascido para cima e para baixo enquanto se movimentam também.
A explicação para isso é que o bebê quando ainda estava dentro da barriga sentia toda a movimentação da mãe, como sentar, levantar, andar e até mesmo fazer exercícios físicos. Por isso, balançar o bebê enquanto se movimenta reproduz ainda mais a realidade intra-uterina.
5. Sh, Sh, Shhhh
Se você já percebeu pais fazendo ruídos enquanto balançavam os filhos, saiba que eles não estavam errados. O quinto e último “S” é de “Shushing”, que pode ser traduzido como calar, mas que é a repetição de “Shhh”, enquanto o bebê é embalado nos movimentos detalhados anteriormente.
Os especialistas explicam que mimetização desse som alto e ritmado conforta o recém-nascido porque lembra o que ele escuta dentro do útero, especialmente o barulho feito pela artéria aorta da mãe, que fica próxima do bebê quando ele está dentro do útero.
Veja o vídeo da técnica: