Estudo mostra crianças em maior risco de complicações graves da Covid-19
É muito raro que os pequenos precisem de UTI, mas ter uma doença crônica pré-existente parece aumentar essa probabilidade. Entenda.
Crianças portadoras de doenças crônicas importantes, como diabetes e obesidade, podem estar em maior risco de terem versões graves da Covid-19, a ponto de precisarem da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para se recuperar da infecção. É o que sugere um novo estudo publicado no JAMA Pediatrics, importante periódico científico.
A pesquisa, feita pela Universidade Harvard e outras instituições, monitorou as admissões de 46 UTIs pediátricas dos Estados Unidos durante cerca de vinte dias. Nesse período, 48 pacientes com idades entre zero e 21 anos foram internados com o novo coronavírus.
Entre as complicações apresentadas por eles, necessidade de ventilação mecânica, a síndrome multi-inflamatória sistêmica e falência de órgãos.
Mais de 80% tinham algum transtorno pré-existente, como males cardíacos, diabetes, condições autoimunes, câncer e obesidade. Dois adolescentes, com 12 e 17 anos, faleceram, ambos portadores de doenças já conhecidas. Entre os que tiveram alta, o tempo médio de internação foi de 5 dias sob terapia intensiva e 7 dias no hospital.
Na análise dos autores, apesar de jogar luz sobre a gravidade da Covid-19 em crianças, a baixa mortalidade é um achado positivo do trabalho. Entre os menores, a taxa de óbitos foi de 4,2%. Para se ter ideia, na UTI dos adultos esse índice pode chegar a 60%. A incidência de falência respiratória também foi mais baixa.
“Crianças com doenças crônicas estão em maior risco, mas é importante notar que nem todas cabiam nessa categoria, o que indica que os pais devem continuar levando o vírus à sério”, declarou à imprensa o pediatra Lawrence Kleinman, autor do estudo e professor da Rutgers Robert Wood Medical School.
Sem sintomas respiratórios
Mais de 70% dos pequenos e adolescentes incluídos na pesquisa tiveram os pulmões afetados pela Covid-19. Entretanto, os cientistas notaram que um número ‘relevante’ de participantes tinha pouco ou nenhum sintoma respiratório.
Nesses casos, as crianças apresentaram primeiro alterações na circulação do sangue, convulsões ou crises relacionadas aos problemas prévios que elas já tinham, como a cetoacidose diabética (quando o corpo não produz insulina o suficiente) e a vaso-oclusão provocada pela anemia falciforme (quando os glóbulos vermelhos se embolam e formam um coágulo).
Quadros crônicos, mas controláveis e com pouco impacto na autonomia e na qualidade de vida da criança, como o diabetes, exigem atenção, mas os autores destacam que as doenças mais associadas às versões graves da infecção eram as ‘clinicamente complexas’.
Em outras palavras, aquelas que exigem tratamentos longos, visitas constante a hospitais, procedimentos cirúrgicos e uso de dispositivos, como respiradores, marcapassos etc. Entram nessa categoria ainda doenças genéticas e que provocam atrasos no desenvolvimentos.
Gravidade do coronavírus nos pequenos
Acompanhar as notícias sobre a Covid-19 é assistir aos especialistas trocarem o pneu com o carro andando, como dizem os próprios médicos nas entrevistas. As crianças são um exemplo clássico disso.
Se antes a doença provocada pelo novo coronavírus parecia poupá-las totalmente, hoje se sabe que elas podem sim desenvolver complicações graves, como reforça este novo estudo. Vale dizer, contudo, que é bem raro que isso aconteça.
Ainda é consenso que a grande maioria dos casos é leve e até mesmo assintomático. Os relatos da síndrome multi-inflamatória sistêmica, quadro que mais preocupa os médicos até agora, estão na casa das centenas (lembrando que temos mais de seis milhões de casos da infecção no mundo).
Nos Estados Unidos, o Centro de Controle de Doenças reportou até agora 122 mortes dos zero aos 24 anos de vida. Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde registrava, até o dia 23 de maio, 64 mortes entre os zero e cinco anos por Síndrome Respiratória Aguda Grave decorrente de Covid-19.