Todas as mulheres nascem com uma quantidade determinada de óvulos nos ovários. A partir da primeira menstruação, no início da adolescência, eles começam a ser liberados a cada ciclo. Caso sejam fecundados, há uma gravidez. Caso não sejam, a pessoa menstrua e os elimina. Espera-se que lá por volta dos 45 ou 50 anos de idade – com pequenas variações para mais ou menos – esse “estoque” de óvulos tenha se esgotado. É quando se inicia a menopausa (com a última menstruação). Para algumas pessoas, porém, isso acontece muito antes da hora, aos 40 anos ou menos. É a chamada menopausa precoce ou falência ovariana precoce.
Os sintomas são os mesmos de uma mulher cuja menopausa ocorre no tempo esperado, afirma o ginecologista e obstetra Geraldo Caldeira, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP). “Ela vai ter as ondas de calor, a vagina ressecada, uma diminuição da libido, irritabilidade e insônia”, diz.
Além disso, segundo o especialista, é como se a ausência dos hormônios sexuais, própria da menopausa, passasse ao corpo uma mensagem de envelhecimento – o que, então, pode acontecer de forma precoce, refletindo-se na saúde, no cabelo, na pele, nos ossos… Há ainda estudos apontando que a menopausa precoce tende a aumentar as chances de a pessoa desenvolver mais cedo problemas como osteoporose e até AVC e Alzheimer.
Menopausa precoce: quais são as causas?
A insuficiência ovariana indica que a mulher não possui mais óvulos. O corpo feminino tem um mecanismo que estimula a liberação dos óvulos e o amadurecimento dos folículos para a fase da ovulação. São os hormônios folículo-estimulante ou FSH e luteinizante ou LH. “Quando a hipófise, que produz FSH, não recebe uma resposta do ovário sinalizando que funcionou, ela envia uma quantidade cada vez maior do hormônio, na tentativa de fazê-lo funcionar”, exemplifica o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, do Hospital Sírio Libanês (SP). O mesmo acontece com o LH.
A partir daí, todo o ambiente hormonal feminino é alterado e as mudanças no corpo começam a ocorrer. Por isso, o diagnóstico é fechado pela análise específica dos níveis hormonais. “Primeiro, a paciente percebe os sintomas e há a suspeita. Se ela estiver há mais de quatro meses sem menstruar, o médico solicita a avaliação hormonal. Então, dependendo da observação e dos resultados, o quadro de menopausa precoce é confirmado”, diz Pupo. Quando a mulher entra na menopausa, tanto o FSH quanto o LH ficam elevadíssimos, no intuito de estimular os ovários. Em contrapartida, outros hormônios, como o estrogênio e a progesterona, sofrem uma queda – justamente por conta da perda de atividade folicular ovariana.
De acordo com Pupo, 90% dos casos de insuficiência ovariana precoce têm causas desconhecidas ou não aparentes. “Muitas vezes, são relacionados a questões hereditárias. Ou seja, a mãe, a avó ou a irmã também já apresentaram o quadro”, conta.
A menopausa precoce pode acontecer com maior frequência também em mulheres que fizeram cirurgias no ovário (retirada de um deles ou dos dois), que tiveram câncer ovariano, que passaram por tratamentos com quimioterapia ou radioterapia, que têm endometriose, hipotireoidismo, e ainda por questões genéticas, como a síndrome do X frágil ou a síndrome de Turner, e por algumas doenças autoimunes (lúpus, por exemplo). Ainda assim, é uma condição rara, que afeta entre 1 e 3% das mulheres, segundo os especialistas.
“Há pacientes que nascem com uma quantidade menor de óvulos e acabam entrando na menopausa mais cedo, sem uma causa conhecida”, diz Caldeira, lembrando que casos de mulheres jovens com baixa reserva ovariana estão sendo investigados em várias frentes. “Existem estudos que avaliam os efeitos de ondas eletromagnéticas, de wi-fi, celular, televisão e computador, nesse sentido. Ou então de pesticidas e agrotóxicos, que são elementos que não tínhamos no passado e hoje são comuns na sociedade”, aponta o médico. No entanto, ainda são necessárias mais pesquisas para estabelecer uma relação sólida.
Prevenção e tratamento
Infelizmente, há poucas medidas conhecidas para evitar a menopausa precoce. “Quando há a identificação de alterações na menstruação, associadas à queda de hormônios sexuais femininos antes de a mulher completar 40 anos, o que se pode fazer para amenizar o quadro é oferecer orientações para diminuir o consumo de bebida alcoólica e de cigarro, se for o caso, aumentar a carga de atividade física e melhorar a alimentação. Assim, com mais qualidade de vida, é possível tentar ganhar algum tempo em relação ao quadro. Mas, na prática, pouco temos a oferecer em termos de prevenção”, afirma Pupo.
Uma opção é fazer o tratamento da menopausa precoce com reposição hormonal. “Ele pode ajudar a manter o ambiente hormonal feminino adequado, como seria o de uma mulher que tem a menopausa na idade esperada”, explica o ginecologista do Sírio Libanês. É possível seguir assim até que a paciente complete 47 ou 48 anos, quando o médico faz reavaliações do caso, para recomendar a continuidade ou não da medicação. A ideia é aliviar os sintomas, retardar o envelhecimento acelerado e manter uma boa qualidade de vida.
Quem teve menopausa precoce ainda pode engravidar?
Felizmente, as técnicas de criopreservação e de reprodução assistida estão cada vez mais avançadas e, de certa forma, tornando-se mais populares e acessíveis. “Se a mulher ainda está na perimenopausa, ou seja, ainda não entrou de fato na menopausa, mas está percebendo sinais de queda hormonal, é possível optar pelo congelamento de óvulos ou de embriões. Depois, ela pode fazer uma fertilização in vitro (FIV)”, explica Caldeira.
“Quando a mulher já entrou na menopausa, isto é, não tem mais óvulos para serem fecundados, ela pode optar pela fertilização com ovodoação, que é usar um óvulo de uma doadora para realizar o sonho de engravidar”, complementa o médico.