Quando o exame de sangue da criança é realizado de forma adequada, não é comum, e nem esperado, que os valores de glicemia estejam alterados. Entretanto, caso isso aconteça, o ideal é esperar pela interpretação do pediatra, que deve realizar uma investigação mais aprofundada do quadro e afastar a suspeita de diabetes, explica Paulo Telles, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Qual o valor normal da glicemia para crianças?
Colhida em jejum, após 8 ou mais horas sem se alimentar, a glicemia em crianças (a partir de 1 ano de idade) tem valores semelhantes aos do adulto. É considerada normal entre 70 e 99 mg/dL. Já a glicemia pós-prandial, medida uma ou duas horas após a refeição, pode chegar a até 140 mg/dL, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
O nível da glicemia da criança está alto no exame
Em crianças sem o diagnóstico de diabetes, a glicemia pode se mostrar alterada – em valores mais altos – quando o jejum não é feito de forma correta para a coleta de sangue.
“É uma situação comum em exames da infância”, diz o pediatra. Além disso, certos tipos de atividade física, uso de medicamentos, processos infecciosos, doenças que gerem estresse ou, em adolescentes, alterações hormonais também são capazes de modificar os valores da glicose.
Quando o valor da glicemia é preocupante?
Uma intolerância da criança à glicose pode ser apontada quando os valores da glicemia em jejum se encontram entre 100 e 125 mg/dL, ou entre 140 e 199 mg/dL na medição pós-prandial (duas horas depois da refeição). “É uma fase chamada de pré-diabetes. Muitas vezes, a glicemia ainda não está alterada, ou está pouco alterada”, explica Mônica Andrade Lima Gabbay, endocrinologista pediátrica e coordenadora do Departamento de Diabetes Tipo 1 na Pediatria da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Nesse período, a criança também pode apresentar pressão elevada, alteração dos níveis de gordura no sangue, como colesterol e triglicérides, e sinais de resistência à insulina, como o escurecimento das dobras do corpo. O quadro de pré-diabetes do tipo 2 pode ser revertido à medida que ela se alimente de maneira mais saudável e pratique atividade física, por exemplo.
Já a glicemia acima de 126 mg/dL em jejum, ou além de 200 mg/dL no valor pós-prandial é considerada diabetes. “A maioria das crianças com a doença apresenta o tipo 1, que é autoimune”, diz Mônica.
No quadro, o próprio organismo destrói as células produtoras de insulina. Logo, desde o primeiro dia de diagnóstico, o pequeno precisará aplicar esse hormônio, que transporta o açúcar do sangue para as células.
O quadro não é reversível. Mas é possível descobrir o DM1 antes que a criança tenha sintomas claros da doença. “No tipo 1, já existe uma predisposição genética associada à presença dos anticorpos. A criança vai perdendo a capacidade de produzir insulina e pode, ainda, passar por gatilhos, como uma infecção importante, o uso de corticoides e situações de estresse intenso”, pontua a endocrinologista pediátrica.