Menstruação atrasada, sonolência, enjoos e outros sintomas típicos levantam a suspeita, e os testes hormonais confirmam que a mulher está grávida. Mas, por volta da 5ª semana de gestação, quando normalmente é realizada a primeira ultrassonografia, o especialista não consegue visualizar o embrião. “Nesse caso, repetimos o exame com intervalos semanais, até que o chamado saco gestacional atinja o tamanho de 20 milímetros”, explica o obstetra Mario Cavagna, diretor da Comissão de Reprodução Humana da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia. “Se o quadro persistir, fechamos o diagnóstico de gravidez anembrionária ou ovo cego, o termo mais popular”, conclui.
A origem do problema
Quando o espermatozoide fecunda o óvulo, a massa celular proveniente da junção origina duas estruturas distintas: uma que abrigará o feto e que inclui saco gestacional, placenta e anexos; e outra chamada embrioblasto, que formará o embrião. “Às vezes, porém, ocorre uma falha genética durante a união dos gametas. Por isso, o embrião não se desenvolve, embora o útero tenha se preparado para acolhê-lo”, esclarece o obstetra Alberto D’Áuria, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo.
O que fazer
Em uma situação tão delicada como essa, o estado emocional da mulher precisa ser levado em conta, como critério prioritário, na hora de definir a estratégia de tratamento. “Se a paciente apresenta sangramento, por exemplo, uma das possibilidades é estabelecer um prazo de até duas semanas para a expulsão espontânea dos tecidos, antes de recorrer a outros procedimentos”, diz a ginecologista Carolina Ambrogini, da Universidade Federal de São Paulo.
Aguardar é uma conduta bastante segura e a paciente não precisa se preocupar com complicações como hemorragias ou infecção. “No entanto, fragilizadas com o insucesso da gravidez, muitas mulheres não conseguem lidar com essa espera”, ressalva Alberto D’Áuria”. Daí, é preciso apelar para alternativas cirúrgicas. “Uma boa opção é a aspiração intrauterina, em que o material é retirado do útero à vácuo”, esclarece Carolina. “Há, também, casos em que lançamos mão da curetagem, uma espécie de raspagem”, finaliza. Mario Cavagna acrescenta que medicamentos indutores de contrações uterinas podem ser administrados, em ambiente hospitalar, para estimular a eliminação natural.
Risco aumentado
A gravidez anembrionária pode acometer qualquer mulher, em qualquer idade. Vale lembrar que até 15% das primeiras gestações não se desenvolvem até o final e que experiências de aborto espontâneo são consideradas normais na vida reprodutiva. A idade, porém, é um fator de peso para alterações genéticas, inclusive aquelas associadas a episódios de ovo cego. “A partir dos 38 anos de idade, problemas do gênero se tornam mais prevalentes”, avisa D’Áuria. E o alerta não se restringe ao time feminino. “Os espermatozoides dos homens com mais de 40 anos estão sujeitos a defeitos genéticos”, lembra o obstetra.
Existe prevenção?
Uma boa maneira de se precaver, no caso de quem planeja engravidar, é ingerir ácido fólico, durante dois meses, antes de tentar a concepção. Sob orientação médica, é claro. “A substância ajuda a prevenir malformações e acidentes genéticos”, justifica D’Áuria.
Recomece, sem medo
Quem enfrentou uma gravidez anembrionária não tem motivo para viver com receio de que a história se repita. “Esses incidentes são, na maioria das vezes, esporádicos, isolados, e ocorrem devido a um erro na fecundação, especificamente”, tranquiliza Carolina. “Mas, se isso acontecer mais duas vezes, é recomendada uma investigação do cariótipo – o conjunto de cromossomos – do casal”, conclui.
Via de regra, a orientação é aguardar o ciclo menstrual seguinte ao evento, recarregar as esperanças, investir no sonho da maternidade e tentar outra vez!