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Uma criança morreu a cada cinco minutos em decorrência da AIDS em 2020

A sobrecarga do sistema de saúde e falta de acesso a serviços vitais devido a pandemia da Covid-19 dificultaram o tratamento de crianças e adolescentes.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 1 dez 2021, 13h46 - Publicado em 1 dez 2021, 13h06

Além das consequências diretas da pandemia causada pela Covid-19, outras áreas começam a ser afetadas em decorrência da sobrecarga do sistema de saúde e inacessibilidade à serviços vitais, como é o caso da prevenção e tratamento do público infantil ao ser contaminado pelo HIV. Produzido pela UNICEF, o relatório ‘HIV and Aids Global Snapshot’ mostra que 120 mil crianças no mundo morreram de causas relacionadas à AIDS em 2020, o que corresponde a uma vítima a cada cinco minutos.

Ainda no ano passado, em torno de 300 mil crianças foram contaminadas pelo vírus (sendo 150 mil de até nove anos), mas a tendência é que este número seja ainda maior devido as subnotificações. O levantamento ainda pontua que dois a cada cinco integrantes do público infantil não sabem que estão vivendo com a condição. “O teste de HIV infantil em países com alta carga diminuiu em 50% a 70%, com novas iniciações de tratamento para crianças menores de 14 anos caindo em 25% a 50%”, informa o documento.

Um exemplo claro disso é o cenário observado no Brasil, em que as taxas de contaminação da população parecem ter reduzido. Mas a tendência é que os números sejam menores porque testes necessários não foram feitos. De acordo com o último boletim epidemiológico de HIV/Aids, elaborado pelo Ministério da Saúde, apenas 13.677 novos casos foram diagnosticados em 2020. Já em 2019, este número era de 41.909.

Sabe-se também que os índices de tratamento de crianças são bem menores quando comparados com os de gestantes e adultos em geral. Na América Latina e Caribe, por exemplo, apenas 51% do público infantil infectado têm acesso à terapia antirretroviral (TARV) e a taxa fica ainda menor quando olhamos para África Ocidental e Central, onde a cobertura chega apenas a 36%.

Os testes maternos e o início do tratamento durante a gestação para que seja evitada a transmissão vertical (mãe-bebê) também reduziram significativamente, principalmente na Ásia Meridional. Enquanto que nos anos anteriores, 71% das grávidas receberam a TARV, este número reduziu para 56% em 2020. Portanto, a testagem tardia para o HIV faz com que as mães demorem para procurar pelo tratamento adequado e consequentemente seus bebês infectados não passam pela intervenção correta, podendo vir a falecer em decorrência das complicações.

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Os reflexos da pandemia no contágio pelo HIV

“Os lockdowns contribuíram para o aumento das taxas de infecção devido a picos na violência de gênero, acesso limitado a cuidados de acompanhamento e falta de estoque de produtos essenciais”, justifica o relatório. Esta desigualdade de gênero reflete também nos números de meninas e meninos infectados. Segundo o documento global, 120 mil garotas foram contaminadas pelo HIV, comparado a 35 mil quando falamos de garotos.

Além dos enfrentamentos do próprio público infantil infectado, há também as consequências sentidas por crianças e adolescentes que se tornaram órfãos por causas relacionadas ao HIV. Só em 2020, 15,4 milhões deles perderam um dos pais ou ambos em decorrência dos agravamentos do vírus.

Com estes dados preocupantes, não há como pensar em um mundo pós-covid sem refletir sobre outras doenças que estão afetando tantas famílias. “Reconstruí-lo deve incluir respostas ao HIV que sejam baseadas em evidências, centradas nas pessoas, resilientes, sustentáveis e, acima de tudo, equitativas. Para fechar as lacunas, essas iniciativas devem ser realizadas por meio de um sistema de saúde reforçado e do envolvimento significativo de todas as comunidades afetadas, especialmente as mais vulneráveis”, enfatizou Henrietta Fore, diretora executiva do UNICEF.

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